sábado, 9 de agosto de 2008

Rapidinhas (mas nem tanto) de Calango

Kaline, Thalyta e Ana - três catraieiras no stand do coletivo acreano

Correria, correria!

Cá estamos, numa rapidinha atrasada, porém, coletiva e cheia de energia. Estamos, pois somos mais de um para o Congresso Fora do Eixo e Festival Calango, que acontecem aqui em Cuiabá. A viagem, aos trancos e barrancos, correu bem apesar dos pesares, não quero falar disso. Chegamos bem, Cuiabá é linda e o pessoal que nos recebeu também.

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Stand, Estande, Estand, Estan...Ah, deixa pra lá
O Catraia ganhou um espaço na área do Festival Calango, onde montamos nossa barraquinha com alguns cds, folhetos, folderes e nosso zine bonitinho feito a quatorze mãos em duas tardes corridas aqui em Cuiabá. Fora o estande catraieiro, outros tantos coletivos, grupos e organizações ocuparam seus espaços. Além do espaço, tivemos um programa especial na Rádio Fora do Eixo, onde falou-se da cena independente acreana e nacional. Glauber [Jansen, da Nicles], Kaline [Rossi, da Blush Azul], Daniel Zen [Filomedusa] e Thays França [supervisora de Relações Institucionais do coletivo] falaram um pouco da participação de cada um nesse processo que mistura festa e muito, muito trabalho.

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Tudodebom.com.br
O local do Calango, o Centro de Eventos Pantanal, tem um baita estrutura. O público se espalha por uma área de 8.700 metros quadrados , entre dois palcos, vários estandes e praça de alimentação. Quem não topa ver o show, pode se espalhar pelos lounges, pelas tendas dos vários coletivos parceiros do Circuito Fora do Eixo, jogar um Guitar Hero no estande da Petrobras ou se empanturrar de quitutes mil que faltam pular no seu colo. Ontem (sexta-feira) fez um calorão. Quinta-feira, a coisa ficou feia e deu pra entender o apelido de Hell City que Cuiabá leva dos seus habitantes: os termômetros marcavam 41 graus. Mas hoje a coisa ficou melhor.

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Tigre de Papel
A atração internacional da primeira noite do Festival Calango foi a Papier Tigre [ouve aqui], um power trio que pode ser explicado como um Arctic Monkeys mais feliz (como são tristes esses meninos!), mas prefiro deixar os rótulos pra lá. Pense num show bacana de se ver e ouvir: melodias quebradas, músicos virtuosos e viscerais. No palco dois guitarristas, um baterista e o Glauber Jansen no canto, observando tudo – o guitarra da Nicles é integrante da equipe de sonorização do evento e absorve todo o conhecimento que cabe num show com fome e sede. A Papier Tigre tem três músicos que valem um dobro, portanto vale dizer que a banda é um sexteto francês que faz um show redondo, quadrado, octagono, escaleno, isósceles e o diabo a quatro de bacana.

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Porongas, Blush Azul e Nicles: entre outros, eles.

Acreanos por aí (e por aqui)
Nos estandes de outros coletivos, de norte a sul do Brasil, em meio a vários disquinhos bacanudos, puxa vida, estão álbuns da nova leva musical acreana. Nicles, Porongas, Blush Azul, repousam ao lado de nomes como Autoramas, Lucy and The Popsonics, Radiohead (sim!!) e Sonic Youth. E, segundo dizem os vendedores, vendem rapidinho. Eba!

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Resenha I: Hey Hey Hey Ho Ho Ho
Subiu agora ao palco do Calango a banda de Porto Velho, Hey Hey Hey (quem quiser que ela toque no Varadouro 2008 levanta a mão \o). Começaram frios, desestabilizados pelos pipocos do som. Apressadinhos, mal terminei essa primeira frase e a terceira música já parecia anunciar uma melhora. Os meninos estavam esquentando. O nervosismo é explicado pelos próprios músicos: "a recepção é tão perfeita, te tratam como rock star e se você não faz jus a esse tratamento, fica feio". Daí o nervosismo. A platéia ainda tava dispersa quando eu retomei os olhos para a tela do computador. Mas já tem uma galera atenta ao som dos vizinhos. Quarta música e a coisa esquentou, formou-se uma rodinha ali na frente e vamo que vamo! Confere: http://www.myspace.com/

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Mais catraieiros com a mão na massa e os ouvidos na música: Fá, Veriana e Janu

Produção In Loco
Aqui do meu ladinho, bebericando uma água mineral (calor demais, gente!), Thalyta França, Suplente do núcleo de Produção do Catraia. Na cidade desde segunda-feira (04.08), Thalyta participou de várias oficinas e palestras, vivenciando na prática os processos que envolvem produção de eventos na cultura independente. Vale lembrar que Thalyta é uma das participantes do projeto Almanaque de Produção Cultural, contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura, que vai juntar nomes acreanos e de outros centros para, claro, oficinas e palestras voltados para a capacitação da galera de produção de Rio Branco. Abro aspas pra moça: “

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Hey Hey Hey Again (Ou A Banda Vizinha Outra Vez)
Thalyta continuou falando enquanto eu andava. Eu tive que correr para a sala de imprensa do Calango pra acompanhar a entrevista com a Hey Hey Hey. Na sala faz um frio danado (o ar-condicionado ta bombando). Espero pelos Pequenos Monstros do Hey Hey Hey. Esse negócio de coletiva de imprensa é legal: músico suado, cansado, ainda no pique de palco, doido pra soltar verbo (uns nem tanto) e um bando de gente doida pra perguntar. Vou perguntar:

Catraia - Como vocês, músicos do Norte do país, enxergam essa possibilidade de encarar a estrada, ganhar experiência em palcos de várias cenas diferentes e agora com essa pegada das Artes Integradas?
Marcos Fonseca - Essa questão das artes integradas nos dá uma visão maior de como fazer as coisas, desenvolver tanto a gente quanto a nossa cena através da união de pessoas, expandindo a forma de fazer cultura. Essa formação tem menos de um ano, tudo acontece rapdo. Saímos de Porto Velhocom menos de um ano de formação e já tocando num festival como o Calango. Isso é muito louco. A gente se sente privilegiado. Tem banda que tem sete anos e nunca saiu do nosso estado.

Catraia - Pergunta clássica: o que vocês acharam do show de hoje (sábado, 09/08)?
Marcos - Não foi nosso melhor show. A gente tava nervoso, o nosso equipamento se perdeu na viagem. Mas o público é mais receptivo. Fazemos shows com som legal e não conseguimos essa receptividade que conseguimos aqui. A gente se sente rock star com o tratamento que recebemos. então eh mta pressão então se vc não faz um show a altura do tratamento que te dão aqui, puxa, eh complicado.

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Carol Freitas, da Filomedusa: carisma, talento e presente na banda que será

Resenha II: Filomedusa
Os meninos e a menina (trocadilho blushniano invertido) subiram no palco e eu quase nem vi. Entrevistando o povo de moda do Coletivo Novo [liderado pela querida Babi Rosa, da PADAM], quando dei por mim o primeiro e grave acorde de Morte em Vida ecoava por todo o evento, fazendo tremer vidros e paredes - sem brincadeira! Convidada para o Calango quando passou por Cuiabá na sua miniturnê, em abril, a Filomedusa começou seu show no dia 09/08 sem nervosismo aparente - que ficou evidente pra quem conviveu com eles durante os minutos anteriores a subida no palco. Justiça seja feita: Carol Freitas 'tava impecável no seu vocal, arriscando sem receio agudos, sustentando notas por mais tempo que o normal e sem sua timidez-nem-tão-tímida de sempre. Carol começa a tirar de letra aquilo que já devia faz tempo: o controle do palco. A moça tem carisma, tem talento e tem presente (o que é muito melhor do que ter futuro). Os outros músicos, virtuoses para além de sua terra, flanavam pelo palco como se fossem donos de si (o que é muito melhor do que ser dono do palco). A banda amadurece cada vez mais. Fez um bom show, conquistou novos fãs e parece se convencer ao que, segundo o jornalista Alex Antunes, é inevitável: se transformar numa das bandas mais bacanas do Brasil.

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Resenha II: Fossil, do Ceará
Música instrumental é aquela coisa: ou se ama ou nem fede nem cheira. É complicado, pero nem tanto. Existe a música instrumental e existe a música cantada em silêncio. No caso da cearense Fossil [ouve aqui], o último rótulo funciona melhor que o primeiro. Bandas instrumentais começam a galgar espaço no cenário independente brasileiro, deixando de ser apenas música para trilha sonora de filmes, novelas ou comerciais de TV, pra terem fãs ardorosos, capazes de "cantarolar" cada "verso" de suas músicas.

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Resenha II: Caminho em Silêncio
Como Macaco Bong e Pata de Elefante, a Fóssil trilha seu caminho com canções de silêncio. Mas diferente das duas bandas citadas, a Fóssil deixa de lado a virilidade que cabe em pentatônicas, tappings ou paradidles e se deixa levar numa catarse gelada e melancólica, que muitos chamam de pós-rock. Nordestinos, a banda está mais próxima dos gringos Godspeed You Black Emperor, Explosion in The Sky e Sigur Rós (vindos de locais onde o sol não dita o passo) do que de seus conterrâneos que flanam pelo cenário independente nacional (citar duas bandas do ceará). Para quem é músico, a apresentação da banda é interessante para se conhecer as formas e fórmulas usadas para produzir seus gritos, uivos e gemidos de calada boca - basta prestar atenção. Para quem é público, ouvir a banda é ter a possibilidade de ver aquilo que cada um quer ver - Basta fechar os olhos.

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Só Acredito Vendo
Vanguart subiu ao palco e todo mundo se concentrou na ali na frente. Algo parecido costuma acontecer quando Los Porongas tocam em Rio Branco: tudo pára. Uns cantam juntos, como quem diz "sou fã", outros observam de longe, como que querendo saber "então são esses que todos comentam", muitos sorriem, dizendo "esses eu conheço, vi nascer/crescer/era meu vizinho/estudou comigo/namorou minha prima". Da sala de imprensa eu vi um Vanguart bem iluminado, bem ensaiado e bem tocado. Confesso que conheço poucas músicas da banda. Confesso também que sou daqueles que não gosta do que todos gostam. Los Porongas mesmo só vim aprender a ouvir (que é quando você aprecia/respeita/divulga mesmo quando não gosta) outro dia, quando reconheci a acreanidade lírica no rock-mpb-plebe-rude-renato-russo do disco - confesso que chorei, como chora um pai quando o filho menor ganha uma medalha. Então eu sei como os cuiabanos que estavam ali embaixo se sentiam. Chamam isso de pertencimento - e isso só acredito vendo. Hoje eu vi. ;-)

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Comidinhas
Nem só de música e engajamento político vive uma pessoa que vai ao Calango. Por isso a praça da alimentação do festival foi uma das mais bem servidas que eu vi até hoje. Pizzas, sanduíches, sopas, caldos, doces e bribotes pra todos os gostos e o que é melhor, todas as banquinhas aceitavam Cubo Card. O negócio é tão bom, tão bom, que nós estávamos morrendo de fome a tarde e foi consenso quando um falou: vamos deixar pra comer no Calango! Valeu a pena.

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Falando Nisso: Cubo Card
Pois é, muito legal ver de perto como funciona a moeda da cena organizada/independente de Cuiabá, o Cubo Card. Do hotel ao transporte, da comida as tatoos, roupas, apetrechos e demais futilidades necessárias, tudo aceitava Cubo Card - que são notas de 1, 5, 10 e 50, com muita cor e utilidade.

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Só Acredito Vendo II
Ok, gosto do Vanguart. Como gosto amo Filomedusa. Mas ainda não gosto deles cantando em inglês. Porque o inglês, Deus Pai. E olha que Your Colour Dream [da Filomedusa] é uma música linda.

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Domingo Por Aí
Batemos perna por aí tentando não parecer turistas - o que é meio difícil, já que o Janu parece um gringo e no Rio de Janeiro, os vendedores de praia falam com ele em inglês -, mas eventualmente nos perdendo, encontramos com um taxista que tinha umas ideias um tanto quanto equivocadas sobre "esse povo do rock ser tudo drogado". Como nessas horas o Janu não consegue ficar quieto, logo estava explicando sobre os conceitos, trabalhos e idéias que movem o festival e as cadeias produtivas e as políticas públicas da cultura. Frases emblemáticas do percurso:
Taxista - Aí você tá falando complicado demais pra minha cabeça!
Janu - Simples é dizer que todo roqueiro é drogado e todo taxista é mafioso!
Taxista - Não é bem assim...err...
Depois dessa exigimos desconto. Mas o tiozinho não deu.

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Pausa
Vamos parar por aqui, porque somos filhos de Deus. É hora de comer um baguncinha [que é tipo o baixaria do nosso Mercado do Bosque] e dormir, felizes e cheios de idéias - que venha o Varadouro e seus shows e suas oficinas e sua pegada de sustentabilidade ambiental, suas artes integradas e sua pré-produção entre os coletivos Catraia, Raio Que Uparta e Vilhena Rock. ;-) Voltamos já-jázZzZZzZzZzzZZZ...


Janu Schwab, Veriana Ribeiro, Jeronymo Artur

são catraieiros e estiveram em Cuiabá para o I Congresso Fora do Eixo e Festival Calango
e aprenderam muitas coisas, inclusive a abrir a mente de taxista preconceituoso em prol da cultura

3 comentários:

Irlla Narel disse...

Ai que lindoám!
To com saudade desse povo, mais to mais com saudade da Ana, já sei...
Enfim, esse clima de festival é demais, queria jogar Guitar Hero, sou fera (6) acho que no varadouro tem que ter! o/


Beijo

Anônimo disse...

salve meus caros! belíssimas as descrições, as percepções, a sensibilidade e a escrita.

caí na risada lendo sobre o taxista! haha

forte abraço do amigo mineiro!

O ACRE É FODA! E tenho dito!

Unknown disse...

Bom conhecer vocês... agora só falta conhecer o Acre! II Congresso Fora do Eixo no Acre! Uhulll. Beijão! Ciça.