terça-feira, 6 de maio de 2008

Diário Catraia: Passo a Passo no Casarão

Primeiro Dia/Kabanas
Um lugar amplo, em algumas partes de cobertura de palha, outras de alumínio. Algo muito semelhante (para não dizer que o projeto me pareceu idêntico) ao espaço Mamão Café, em Rio Branco, pra quem conhece. Uma lojinha armada em baixo de uma tenda. Barraquinha com CDs, adesivos, camisetas, demos das bandas. Dois bares. A tia do cachorro-quente e do churrasquinho. Dois lugares que faziam drink’s, batidas, gororobas alcoólicas e afins. Dois banheiros. Na verdade em termos de espaço físico, eram 4. Dois masculinos e dois femininos. Dois palcos. 11 bandas a se apresentar na sexta-feira dia 2 de maio de 2008.Cheguei atrasada, pra variar, e perdi as 3 primeiras bandas.E na verdade nem sei se tocaram, pois houveram muitos atrasos e cancelamentos durante o festival. Culpa das companhias aéreas. Culpa do mau tempo. A culpa é sempre de alguém.


O Kabanas, palco de dois dos três dias de Casarão.

Os Visitantes (SP)paulistas estavam tocando. Muito divertido o show. Os integrantes têm muita presença de palco, letras bem humoradas como ‘Comensal’ e um sósia do ator Caco Ciocler, que interpretou Luís Carlos Prestes no filme ‘Olga’, no baixo - o Caco fez outros papéis, mas eu só consigo me lembrar desse. Muito simpático, Dods- o baixista - me contou que já está acostumado com a comparação e achou graça quando eu, sem graça, fiz o tal comentário.Aliás, é um costume meu. Sempre que estou longe de casa tenho a mania de ficar procurando semelhanças em rostos desconhecidos, comparando ruas e muros com os que eu conheço. É divertido (pra alguém como eu, claro).

Voltando às bandas. No outro palco a Underflow (AM) já tocava, enquanto eu desviei o trajeto para o bar. Comprei uma água. Estava com início de gastriterock. Chamo de gastriterock a minha gastrite nervosa que tenho quando estou no meio de muita gente, em shows principalmente. Não assisti muito, mas gostei quando eles tocaram de Purple Haze do Jimmy Hendrix. Eles tocam bem.


Visitantes, do coletivo paulista Escárnio e Osso: divertidos.

Na seqüência seria Mr. Jungle (RR), mas cancelaram o vôo deles em Manaus e o show foi adiado para o dia seguinte. No lugar Bicho du Lodo (RO) tocou. Eu continuei sentada, tomando minha água e vendo o movimento das pessoas com cerveja, meninas de salto alto, meninos engraçados, gente esquisita, caipiroska, água, churrasquinho e cachorro quente pra lá e pra cá na mão de todo mundo.

A banda Do Amor (RJ) tem uma proposta musical diferente. É quase uma mistura de Los Hermanos (Gabriel Bubu, um dos integrantes da banda, foi baixista de apoio nas turnês dos Hermanos) com o carimbó daquela banda Calypso. Uma mistura genial. Todos os integrantes cantam, tocam e fazem caretas. Tinha muita gente curtindo a ousadia musical dos ‘amores’. Claro que tinham uns manés tirando sarro do som, é difícil quando gente desse tipo vai a um festival de rock, com bandas independentes, querendo ver Bruno & Marrone ou Edson & Hudson - não posso falar assim do Hudson pois li a entrevista dele na Rolling Stone, falando sobre o seu cd solo, pasmem, hard rock!

Mas tem coisa pior: a iluminação dos palcos. Em todas as bandas que eu assisti, a iluminação do palco estava deficiente, para não dizer horrível. Faltou empenho (ou técnica) por parte do pessoal responsável em transformar o show das bandas em um SHOW de bandas. E eu falo como integrante de banda e isso, também, acontece em qualquer lugar.Um show não é só a banda tocando no palco. É o som, a iluminação, a equipe de roadies, de técnicos e tudo mais. Um dos pontos a serem melhorados.

Coveiros (RO) é uma boa banda, respeitada por ali, com público cativo, bem ensaiada, vocal forte, mas definitivamente, não é o meu estilo. Como diriam por aí, sou do movimento canção! Depois deles, subiu ao palco o Mukeka di Rato (ES). Pra começar, mal consegui chegar a frente ao palco pra tirar fotos. Me senti um rato prestes a ser feito muqueca em meio a uma manada de elefantes se batendo um nos outros. E o último show da noite Cachorro Grande (RS), foi a exceção com relação à minha indignação já citada. Som e iluminação perfeitos. Por que será? O show foi ótimo. Ótima interação com o público e as baladinhas que eu tanto gosto. Fechou a noite com chave de ouro. Chavinha de casinha cachorro de ouro.



Do Amor, do Rio de Janeiro: mistureba boa de muita coisa

Beto Bruno, do Cachorro Grande: gaúchos em solos do norte.


Segundo Dia/Casarão da Estrada Sto Antônio
O segundo dia não foi no Kabanas. Foi no Casarão, lugar que deu origem ao nome do festival. É um ícone histórico de Rondônia. É o que restou do antigo escritório da Madeira-Mamoré Railway Co., a empresa que ficou responsável pela construção da ferrovia de mesmo nome, após de assinado o Tratado de Petropólis, que resolveu a Questão do Acre. Se você não sabe, procura na Wikipedia, aqui. O lugar é lindo. Longe da cidade, quase no meio do mato, quase dentro do rio. Lugar lindo que em breve vai ser inundado por uma futura hidrelétrica. Uma realidade triste que se mistura com a beleza do lugar.

No festival, árvores se misturam a uma decoração de psytrance, djs tocando em uma tenda, dois palcos, iluminação com o mesmo problema da noite anterior. Uma piscina. Barulho das águas do rio Madeira e barulho do rock do Casarão. Banquinhas com camisetas, adesivos, cds, demos, discos. A tia do cachorro quente estava ali também. E o bar, era só um. Na noite de sábado o bar era aberto: cerveja, hi-fi, refrigerante, água e uma bebida que eu tomei a liberdade de chamar de Ice Caseira, de graça a noite toda ou até quando durasse o estoque.

Um parágrafo para situar as coisas no seu tempo e espaço. Na tarde do sábado tivemos uma reunião com Pablo Capilé, do Espaço Cubo de Cuiabá, representantes do Projeto Beradeiros (RO), TomaRock(RR), Vilhena Rock(RO), Rock’n’Jipa (RO), Pablo Kossa, da Fósforo Records(GO), Ney Hugo (também do Espaço Cubo), Daniel Beleza (SP) e nós, acreanos representantes do Coletivo Catraia. O papo foi bom e você pode sacar um pouco no post da Thays França, aqui.

Após a reunião, segui direto com o ônibus que saia do hotel onde estavam hospedados os produtores e jornalistas, rumo ao outro hotel onde as bandas estavam hospedadas. Minha missão era acompanhar a Marlton, nossa banda catraieira, desde a saída dos seus aposentos até o momento do show. Eles seriam a 3 banda da noite. E eu queria registrar cada passo, cada ruga de preocupação e nervosismo. Os shows começaram. One Week(RO) foi a primeira banda e a Hell Fire (RO) a segunda. Não assisti nenhuma das duas, só ouvi de longe. Estava andando pelo Casarão, admirando a arquitetura do lugar, olhando as camisetas d’Os Visitantes (por sinal, muito legais) e dando uma passadinha no bar doce bar.

Na hora da Marlton (AC) subir no palco, passei a seguir os meninos com a câmera, registrando todos os momentos. Acho que consegui. Fizeram um ótimo show, o público estava interessado em conhecer os "meninos do Acre", aplaudiram e demonstraram satisfação. Dizem as más línguas que Dito, o vocalista da Marlton, deu até autógrafo para uns carinhas de Porto Velho. Aí é Dito, pena que ele não gosta de...


Rodrigo e Dito, da Marlton: com direito a autógrafos.

A próxima banda foi SucodinoIS (RO). Sugestivo nome. Fui ao bar experimentar um suco caseiro de Ice, aquela bebidinha gelada com cachaça. Até que tava boa! A gastriterock chegou chegando e fui sentar. Não devia ter bebido. De longe eu vi e ouvi a Boddah Diciro (TO). Uma baterista super estilosa, segura e criativa, com uma guitarrista idem, com voz de Kurt Cobain, um baixista com pegada forte e outro guitarrista pra completar a composição de uma banda foda. O estilo, não é dos meus, mas que show foi o deles! Energia, graça, feminilidade e delicadeza. Adorei!Adorei! É tão bom ver meninas tocando rock e tocando bem. Ai ai...


Depois da porrada do show das meninas e dos meninos ( isso me soa familiar ), veio Aliases (AM), com um show divertido: o baterista ousado usava só uma samba canção e fez gracinhas durante o show. Rockinho dançante que eu tinha visto uma vez pela televisão. Amazonsat. Fui ao bar, depois a banquinha de cds. Meus colegas queridos do Mr Jungle (RR) incendiaram o casarão com um show apocalíptico, extremamente empolgante e rock’n ‘roll (hipérbole mor).Levaram o público à loucura.Manoel, o Mister Rock’n’Roll, jogava água e cerveja no público mas não apagou o ‘fogo’.Tá bom, chega de trocadilhos: a banda fez um ótimo show, ganhou a estrelinha dos melhores da noite, junto com os Boddah’s e os Marltonianos.

Euforia no ar. Um tempo bom, meio friozinho. Radio ao Vivo (RO). Bar, fotos, banheiro, banquinha, rio. Mezatrio (AM). Começaram com um probleminha com o microfone, pedestal quebrado. (outro ponto negativo pro festival: roadie). Mas fizeram um ótimo show. Eles têm uma vibe no palco. E meu amigo Paulo me deu até o Cd do Meza. Ê. No palco ao lado, outro show estrelinha da noite. Eles não são só estrelas da noite, são estrelas sempre. Daqui a pouco vão me chamar de tiete, mas os caras são de outro mundo. Show eletrizante de Macaco Bong (MT). Destruiu o Casarão. Não tenho nem mais o que falar, pago pau mesmo. E quem não?


Kayapy, do Macaco Bong. Incendiando guitarra, baixo, bateria e platéia.

Recato (RO). Lembro deles no Varadouro 2007. Banheiro. Bar. Gastriterock.Lugar pra sentar. MQN (GO). Cachorro-quente da ‘tia’, bar, banquinha de produtos das bandas. Depois de recuperar minhas forças com um suquinho de limão (ih!): Dead Fish (ES). Aglomerado de gente em frente ao palco, cantando as músicas de suas vidas como se fosse um hino. Os caras querendo ou não, tem história. Eu mesma já ouvi bastante quando era mais nova (ui), tanto é que durante o show eu só conhecia e cantei umas 3 musicas. Muito bom o show. Fechou o segundo dia com peixe de ouro.


Terceiro Dia/Kabanas
O terceiro e último dia de Casarão foi no Kabanas de novo. Dessa vez, cheguei cedo. Cheguei tão cedo que ainda estavam passando o som. Tive que esperar um pouco para entrar. A banda que fechou o dia (estava claro ainda) e abriu o terceiro dia de festival foi a Célul’Ativa (RO). Muito bem ensaiados, energia no palco, influências visíveis de Dead fish e Cpm 22. Não foram nem um pouco prejudicados por serem a primeira banda. Havia público. Estavam todos lá, curtindo o show. Depois deles, Di Marco (RO).Vindo de Ji-paraná, mostraram que no interior tem muita coisa boa, as vezes até melhor que na capital.Banda muito boa, bem ensaiados, musiquinhas dançantes e um cover perfeito do Artic Monkeys.

Barraquinha, bar, água e banheiro. Miss Jane (RO) no palco. Muito simpático o vocalista, ótima voz. Gostei também. Entre uma música e outra descobri outro ponto negativo do festival: a má distribuição das bandas de Rondônia no festival. Pelo que me pareceu, as melhores bandas ficaram pro último dia. Todas as que eu vi, no domingo, eram bandas boas. Achei meio desproporcional.E sei que isso é um problema comum.

Outra coisa que tenho percebido em festivais e eventos está relacionado à preocupação com a estética do show para todas as bandas. Não há empenho em fazer uma iluminação boa, um som que agrade a banda, em ter um roadie que se comprometa em fazer de tudo para que a banda tenha uma boa apresentação, que os façam se sentirem importantes. Pois a banda é importante. Todas são.(Redundância justificada pela causa.)

Sem distinção, devem receber o mesmo ‘tratamento’ que a banda que veio de fora, cobrando cachê em milhas. E eu entendo a dificuldade que é fazer as coisas serem diferentes. Acontece em quase todos os lugares. Tudo isso envolve um esforço enorme pra fazer as pessoas entenderem que não é favor, que não é frescura. É buscar por excelência, sempre. O grande desafio é transformar essa nossa cena independente, em independente, mas profissional. Não é só por que é independente que tem que ser ruim ou mau feito.

Não vi nem Seu Miranda (RJ), nem Johnny Suxx n’the fucking boys (GO) e nem Hey Hey Hey (RO). Mas o Pablo Capilé disse que se surpreendeu com essa última banda. Achou legal. Eu tinha visto e ouvido os Hey Hey Hey no Grito Rock Acre. Achei bom também.

Querembas (Bolívia). Mais uma estrelinha pro festival. Uma baixista e uma tecladista mandando ver em uma banda de rock pesadão, estilo, err, slipknot? Showzão, ótima performance. Me gusta mucho. Ganhei o CD do Baterista, mesmo sem entender uma palavra, trocamos figurinhas, ou melhor, cds. A blush agora está em território internacional! Fiz uma entrevista com eles, vê ali embaixo.

Entendam vocês que quando falo estrelinhas, trata-se do meu selo de qualidade, mesmo que sem credibilidade nenhuma, tem um caráter extremamente pessoal que não diz respeito à ninguém mais, senão eu mesma. Banheiro. Churrasquinho da tia. Telefone. Telefone. Ultimato (RO). Muito bom o show, força, peso, personalidade. Uma voz de tirar o fôlego e uma bateria pulsante. Bom de novo.

Ecos Falsos(SP) + Daniel Beleza (SP). Ótimo o show. Confesso que ao ver o show deles mudei totalmente a opinião que tinha quando ouvi uma música aqui, no computador.Definitivamente tem que assistir o show.Como eles se auto intitularam, falando em espanhol, e dizendo serem do Paraguai : Los Travecos Falsos, fizeram um show cheio de presepadas, com música boa e a participação especial do guitarrista da banda da Pitty, o Martin, na música ‘Eu só sou sentimental quando me fodo’. Muy rico. Exausta, com gastriterock, eu vi as menininhas que vinham correndo, emos,gente grande, gente pequena e gente esquisita para a frente do palco para ver o último show, o grande show, o show mais rock’n’roll do Brasil (segundo o locutor): Pitty, lá da Bahia.

Sentei em um palco que ficava paralelo ao palco principal e assisti sentada ao show da Pitty. Algumas vezes tentando enxergar por entre as pernas de um carinha que estava montado na minha frente, mas ainda conseguia balançar a perninha. Gosto da banda dela, gosto do som dela e da voz. Foi o show do DVD ao Vivo (Des) Concerto e teve a participação do Daniel Beleza na música cover de ACDC. (esqueci de dizer que no domingo tinham 3 palcos. Um deles era exclusivo pra Pitty. E que foi o dia que mais deu gente no festival. Chuto por alto umas 2 mil pessoas.)

Em resumo, o Festival Casarão foi muito bom. É importante ter festivais que valorizem o intercâmbio entre bandas locais com bandas de vários lugares do país. Achei bacana, principalmente, por poder trocar idéias e experiências com as pessoas dos outros coletivos. Um festival é oportunidade de gerar mais conhecimento nas áreas da cultura. E que venham os próximos.


fotos de Cátia Burton, Kaline Rossi e Thays e Thalyta França.

Kaline Rossi
é baterista
da Blush Azul,
integrante
do Núcleo de Produção do Catraia
e foi checar de perto o Festival Casarão.

Um comentário:

Marcos Felipe disse...

Gostei do texto. Gostei da crítica quanto a iluminação dos palcos que aliás atrapalhou em alguns momentos no show da minha banda. Mas alguns pontos que você citou deveriam ter sido sanados com a produção do evento para que seu texto fosse mais objetivo( não houve atraso no primeiro dia, por exemplo). O nome da tal bebida é Gustapira, criada à uns 8 anos em uma das festas da UNIR. Quanto a distribuição das bandas, acredito que você deveria ter assistido a todas as bandas para fazer uma observação desta.

Então é isso, até mais.