terça-feira, 8 de abril de 2008

Nicles - Órfãos das teclas


Quando voltei de Cuiabá com minha banda, a Marlton, saí para passear pelo centro de Rio Branco, dar uma volta pela passarela e apreciar o rio com minha companhia preferida. De longe avistei Friedrich Margarido - ou só Fred - tecladista da Nicles, parceiro de cena e amigo pessoal. Quis saber das novidades, notícias do show da Nicles no Grito Rock Goiânia e essas coisas de gente que se encontra por acaso. Fred, sempre sorridente me contava detalhes do show, mas sem muito entusiasmo e sem aquele brilho no olhar que se percebia sempre que falavamos dessas coisas. Depois de alguns minutos de conversa, o Fred me diz: Tá sabendo que eu saí da Nicles, né?

Pára tudo! Fiquei transtornado. Sou fã assumido da banda e acho os teclados do Fred essenciais naquelas músicas. São melodias muito dependentes do teclado desde sua criação, e com certeza, sem a presença do Margarido, a banda não seria a mesma. Imaginei Sete Chaves ou 10 a 90% dance sem aquele teclado estridente, quase calando a guitarra. Pára tudo! Quis saber o porquê. Por quê? Fred alegou que algumas desentendimentos já vinham acontecendo há um tempo e que sua saída da banda tinha como único motivo esses mesmos desentendimentos. Ah, então há uma chance de volta? Fred diz que quer voltar. Mas afirmou que só retorna quando tudo for resolvido.

A Nicles, agora, está caminhando sem Fred. Com um álbum saindo do forno, o agora quarteto continua firme e forte, como o próprio Fred percebeu na última apresentação da banda ao lado de Dona Chica e Lendários Nativos (leia-se Grupo Capú), no Balanço da Catraia Anos 80. Lembro de Fred olhando com aquele já citado brilho nos olhos para a banda se apresentando, para as performances alucinadas de Kilrio. Com a lembrança do último show da sua ex-banda, Fred foi sincero: Continua boa, né bicho?

Percebi então que eu estava enganado. A banda realmente continua muito boa sem o teclado e prepara o lançamento do seu primeiro CD. Agora, Nicles é Kilrio Farias nos vocais, André Bandeira no baixo, Glauber Jansen na guitarra e Johnny Ratts na bateria. Acompanhe agora uma conversa franca que tive com Glauber Jansen sobre os planos da banda depois da saída do tecladista.


ENTREVISTA: GLAUBER JANSEN, GUITARRISTA NICLES
Um Instrumento a Menos
por Diego "Dito" Mello
Catraia - Glauber, o Fred já tinha dado sinais ou demonstrado alguma vontade de deixar a banda antes da viagem pra Goiânia ?
Glauber Jansen - Não claramente. Acho que o resto da banda já vinha achando ele meio estranho, não sei, até onde eu sabia estava normal. Nós (eu e Fred) sempre conversávamos sobre viagens, shows, e ele demostrava empolgação.

Catraia - O que você acha que a banda perdeu com a saída dele?
Glauber - A banda perdeu um integrante, mas não acho que isso vá abalar o som da Nicles. Nós temos uma onda de fazer sempre um som diferente. Daqui pra frente só irá soar sem os teclados. O que eu penso, por enquanto, é como substituir os arranjos que o teclado fazia. Têm certos arranjos que ficam até vazios sem os teclados, por isso pedimos (eu pedi) pro Saulo [Machado, Gestor do núcleo de Sonorização do Catraia e guitarrista da banda Filomedusa] dar uma força no último show. Gostei do resultado e o convite foi feito para ele fazer um som com a gente sempre que achar conveniente. Mas, perda não houve. E sim adaptações sonoras. Oportunidade para a novidade!

Catraia - E os pontos positivos da saída? Algum(s)?
Glauber -É um instrumento a menos, e uma oportunidade a mais de fazer um som diferente. Vai exigir mais de cada um e isso é bom pra quem busca novidade. Nos faz buscar mais conhecimento pra poder sustentar o que queremos fazer.


Catraia -
Quanto aos arranjos? Vão refazê-los? Samplea-los? Como vai ficar?
Glauber - Então, já pensei em samplear, mas ainda não temos recursos. Não é nada certo. Por enquanto estamos ensaiando para conseguir chegar perto do que éramos. Não vai ficar igual, isso é fato. Peço para que vocês não pensem"como será que a banda vai fazer pra reproduzir os efeitos/arranjos do teclado?" e sim, esperem um "ruído" novo, algo diferente do que era antes, pois é nisso que estamos trabalhando. Mas o sample está em meus planos, não agora, mas para uma futura fase da banda.

Catraia - O Saulo fez uma participação na ultima apresentação da Nicles, e nas músicas que ele tocou, percebi que foi extremamente necessário outro instrumento segurando com a guitarra principal. O que vocês pensam em fazer com essas músicas quando não tiverem a opção de alguma participação ?
Glauber - O Saulo quebrou um galhão mesmo. Eu me sinto muito à vontade tocando como ele, rola uma boa sintonia. Mas, voltando a pergunta, no primeiro ensaio sem o Fred a gente conseguiu fazer uma sonzeira, eu fiquei muito satisfeito com o resultado daquele ensaio, até por que estávamos parados por quase dois meses desde que voltamos de Goiânia, mas vai ser isso mesmo, vamos ensaiar pra isso, pra segurar da melhor forma que o rock ensina, pra isso estou ouvindo muita coisa, pra ter idéias e mais idéias.

Catraia - Voltando a falar da saída do Fred. Houve alguma briga ou discussão entre ele e Johnny antes? Ou apenas em Goiânia?
Glauber - Não na minha presença. Também não tive conhecimento.

Catraia - Pra finalizar. E os planos da Nicles? Conte aí pra gente sobre o lançamento do álbum e os planos futuros.
Glauber - Temos apenas uma estimativa da previsão, acho que na metade do 2° semestre estamos com tudo pronto pra lançar. Está faltando alguns ajustes finais, pra partimos enfim pra mixagem (que acho que não será demorado). Quanto aos planos, estamos trabalhando músicas novas, e outras possibilidades de algo diferente. Esse algo diferente ainda não está certo. Acho melhor ficar interno mesmo. Faz parte do plano também.
Foto por Renato Reis.

18 comentários:

Kaline Rossi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kaline Rossi disse...

'Por que há males na vida que vem para o bem'
É isso aí Nicles, tocando o barco por que a correnteza é forte!

E Parabéns Dito, mandando ver nas 'teclas'
o/

Chris Rock disse...

Todo mundo sabe q ele saiu pelas tretas com o Johny e a banda pode continuar boa sim, musicalmente , mas o espírito da nicles que a gente sentia e via nos shows na época do Wesley, jé era.
Ah , quanto aos problemas cujo o Fred se referiu e disse que só volta após ter resolvido chama-se Johny.
Soh um esclarecimento a mais aih pra galera.

Té mais!

Unknown disse...

Galera,para esclarecer bem as coisas sobre a saída do Fred, é que ele saiu
simplesmente porque quis,eu mesmo já tive minhas diferenças pessoais com o jhonny e com o proprio Fred,nem por isso afetou nosso relacionamento em questão a banda,pois tentamos ter uma postura profissional.
Quanto ao espirito q algumas pessoas relatam,a banda continua tendo, já que o que sempre nos moveu foi a sinceridade nas canções e atitudes dentro e fora do palco,com isso espero ter ajudado as pessoas que se importam com nosso som a entender nossos sentimentos já que somos todos humanos nessa porraaaaa.

Adaildo Neto disse...

Creio que esse tipo de tema não deveria ser veiculado no blog do coletivo, na verdade o coletivo não tem nada a ver com isso, tem tanta banda que entra e sai gente.. e nem por isso deixa de perder o espirito, ou o profissionalismo.

Considero que para todo tipo de relacionamento aquele ditado que diz: "Briga de marido e mulher ngm mete a colher".

Tem tantas coisas que podem ser faladas sobre esse assunto sem a necessidade de ser polemico.

Nicles orfãos da teclas... faça favor hein.

Desse jeito damos espaço para esse semeadores da discórdia...

E acredito que o coletivo não precisa disso. Valeu, galera.

Kaline Rossi disse...

Neto,como vc pode dizer que o Coletivo não tem nada a ver com essas coisas ,que afetam diretamente as bandas,se justamente as bandas compõem (também) o coletivo catraia?

Acho que o que está sendo feito aqui é o esclarecimento da situação das bandas para o público que se importa e se interessa pelo assunto.

o/

Unknown disse...

iphougqwdf

Unknown disse...

Estou surpreso com essa matéria.
Ainda bem que visitei o site hoje. se fosse em outros dias não escreveria nicles,nada,...simplesmente deixaria passar, mas eu não me submeto mais a fazer tal coisa.
Kilrio tem razão quando diz que eu sai da banda simplesmente porque quis, mas qualé o músico que não sairia de uma banda que acabou? Eu pergunto e respondo. É o Kilrio.Foi o que restou da Nicles.

Diego "Dito" Mello disse...

Eu discordo, e sei q vc falou isso da boca pra fora Fred, porque nos vimos o show no balanço.. e vimos que a Nicles continua sendo uma das melhores bandas do acre.
Você e eu sabemos disso. =)

thiago disse...

Vou dar uma certa razão ao Neto e também comentar algo que já havia comentado com alguns amigos.

Os textos estão bem escritos, dou parabéns ao Dito, à Veriana e ao Artur. Neste ponto, nada a criticar, apenas elogios. Mas também acho desnecessário esse enfoque todo pra saída de integrantes das bandas. Alguns textos são até sensacionalistas. Será que não está havendo um exagero? Em alguns momentos, este blog mais parece um clone do site "O Fuxico", e as bandas ganham a relevância de um Los Hermanos.

Isso, especialmente da maneira como está sendo colocado, com entrevistas que buscam ir mais à fundo nos problemas internos das bandas, favorece as polêmicas e discussões que saem do que realmente interessa, que é o trabalho musical, e acaba trazendo pra cá questões pessoais de cada integrante, coisas que deviam ficar restritas aos membros da banda. Ou seja, ao invés de combater e esclarecer inverdades que circulam por aí - como acredito que seja o objetivo destes textos -, favorece a perpetuação delas.

Há público interessado em ler sobre isso? Sim, claro que há, mas é preciso refletir se o Coletivo tem interesse em tornar este blog uma espécie de revista Contigo.

Janu Schwab disse...

opa, opa! chegou a hora de dar uma pausa nisso aqui! Vou responder ao Fialho e ao Neto, pela parte que toca ao Catraia.

Em primeiro lugar, entendo a situação e o posicionamento dos dois em relação ao "deixa disso".

Concordo que os motivos íntimos que ligam os integrantes de cada banda dizem respeito somente a eles.

Agora o que diz respeito a cena, como a saída, troca, adição, mudança de estilo musical numa banda, vai ser assunto deste blog, sim.

Fialho, temos que respeitar as devidas proporções, claro. Mas embora você acredite que a abordagem desses assuntos só caibam a Los Hermanos e outras bandas ditas importantes, deixo bem claro à você que as bandas da cena acreana, meu caro, são sim importantes dentro do contexto delas.

Quer dizer que falar do dia a dia das bandas não pode? Ninguém quer saber o que pensa um integrante de uma banda de Rio Branco? São só umas bandinhas de fundo de quintal?Nenhuma banda aqui é um Los Hermanos, pra ser notícia. Mas baixar o malho no solo ruim de fulano ou na voz desafinada de beltrano pode?

Não acredito que isso amadureça a cena. E é papel do Catraia, juntamente com as bandas, estimular o amadurecimento dessa cena.

E isso vai muito mais em noticiar o dia a dia das bandas e aquilo que envolve o processo criativo delas, do que fazer criticas técnicas sobre esse ou aquele show, esse ou aquele estilo.

Não há como comparar tecnicamente as bandas (ou os shows, ou os estilos) entre elas. Todas são importantes para o desenvolvimento da cena, quer gostem desta ou detestem aquela. Essa comparação técnica sim, não cabe neste blog.

As abordagens, tanto nas notas sobre a Blush, quanto sobre a Nicles, não tiveram o propósito de intensificar possíveis celeumas que planam por aí. Trazem apenas a idéia de noticiar um acontecimento importante (do ponto de vista da cena). No caso da banda das meninas (e do menino), a coisa foi mais tranquila, porque as meninas decidiram tudo amigavelmente.

Não sei (e não quero saber) os detalhes que levaram a saída de um dos integrantes. Eu sei e muita gente sabe que houve desentendimento. Não é segredo. Os motivos dizem respeito a banda e não cabe a ninguém julgar X ou Y.

Condeno completamente o uso deste espaço para lavar roupa suja. Principalmente de forma anônima.

Conhecendo o Dito, creio que a sua abordagem no assunto não teve o propósito de ver o circo pegar fogo. Talvez ele não tenha medido o teor delicado do assunto. E acredito que nem a banda mediu. Por isso que esse momento é muito construtivo.

Construtivo para o Dito, que vai lidar de maneira mais responsável com suas palavras. Construtivo para as bandas, que precisam entender que, por mais que tocar seja um passatempo tranquilo, a posição delas dentro da cena é importante para o andar da carruagem.

O Dito pode até ter ido um pouco além nas suas abordagens, pontuando detalhes desnecessários do ponto de vista geral. Mas há no texto uma retórica interessante. Ele, como fã, teme a saída de um integrante. Mas deixa claro que continua fã.

Concordo que quando o dia está quente, o melhor é não colocar mais lenha na fogueira. Mas o texto do Dito é um texto subjetivo, assinado por ele e de inteira responsabilidade dele e de quem forneceu as informações pra ele.

Deve-se sim, ter cuidado com detalhes de foro íntimo. Deve-se sim, respeitar as relações interpessoais. Mas deve-se também pegar leve nas interpretações e posições fervorosas sobre determinados assuntos. É tempestade num copo d'água para afogar formiga.

Abraços.

Unknown disse...

DITO,

vc não entendeu, quando eu disse que a banda nicles acabou não me referia a este grupo que vem se apresentando como Nicles, mas sim ao grupo que entrei na época, em 2004. Wesley,Kilrio,Johny, Magno.
valeu!

thiago disse...

Meu Caro Janu, acho que devo esclarecer - embora já tenha frisado isso no meu texto - que minha opinião difere um pouco da manifestada pelo Neto em seu comentário neste post.

Não sou contra a abordagem do tema (saída de integrantes das bandas), acho que é pertinente sim, tem sua importância e merece ser noticiado.

O que não acho correto é a abordagem que ele tem recebido, sou contra a maneira como ele foi explorado em posts recentes.

Qualquer pessoa que ler estes textos vai notar que há até uma certa dose de dramatismo em alguns deles, que atraem a curiosidade do público e caberiam bem numa revista de fofocas, mas que neste blog - acredito eu - não são adequados. E não estou falando unicamente do post do Dito, todos os outros textos sobre o tema possuem esta característica.

Sobre a questão da relevância das bandas, não estou menosprezando a importância das bandas acreanas. Entretanto, acho inaceitável dizer que são todas uniformes. Diz-se no Direito algo que pode-se aplicar pra este tema também: "Não se deve tratar de forma igual os desiguais".

Você é um publicitário, Janu. Entendo que esteja sempre preocupado em valorizar as bandas (que são tratadas como produtos da Catraia) visando incentivar a cena local.

Mas há, claro, diferença entre bandas que já escreveram seus nomes na história da música acreana e bandas que ainda buscam seu lugar ao sol.

Vou deixar de lado o exemplo dos Hermanos e pegar um exemplo local: Los Porongas.

Vou duvidar de sua sinceridade se me disser que uma banda como Los Porongas equivale à qualquer outra das bandas mais jovens que façam parte do Coletivo. É um posicionamento bonito e certamente incentiva as bandas: imaginar que todas são iguais e têm a mesma importância. Mas é extremamente fantasioso.

Se, por acaso, Diogo Soares anuncia sua saída do Los Porongas, vou achar aceitável uma abordagem um pouco maior sobre o tema, mas de forma comedida e sem sensacionalismo. Afinal, tenho certeza de que é um fato que irá causar comoção entre os milhares de fãs que a banda possui, não só no Acre, mas em todo o país. Que vai ter a atenção de parte da crítica especializada nacional, que já deu o devido reconhecimento ao trabalho da banda.

Pego até teu exemplo e uso ele também, mas vendo por outro ponto de vista. Quer dizer, não se pode criticar as bandas locais, porque a cena ainda está se consolidando, porque as bandas são iniciantes e porque é cedo pra fazer qualquer crítica negativa sobre elas. É um argumento que você utiliza com frequência. Mas, ao mesmo tempo, deve-se dar à elas o mesmo destaque que teria uma banda de renome nacional? Não vamos esperar elas serem dignas do merecimento de tamanho destaque, coisa que só conseguirão após trilhar mais um longo caminho na cena independente?

E eu nem falo de popularidade, eu falo de respeito. As bandas do coletivo, em sua maioria, ainda não consquistaram respeito suficiente entre a crítica e o público pra que se justifique tanto burburinho em virtude da saída de um integrante.

Não é uma questão de diminuir a importância destas bandas, é simplesmente dar um destaque compatível com o que elas já conquistaram até então. Se você bota Los Porongas e Teu Pai (vou citar minha própria banda fracassada como exemplo) do mesmo lado, você não está simplesmente valorizando a Teu Pai, você está menosprezando a importância que uma banda como Los Porongas tem e teve pro rock acreano (a propósito, se isso não ficar claro, escrevo posteriormente um texto falando a respeito).

Achei tão excessivo o destaque que foi dado aqui, que chego a pensar que daqui a alguns dias estarão incentivando bandas que perderem integrantes a convocar uma coletiva de imprensa pra falar sobre o tema.

Falando de outro assunto agora, comentando sobre os textos críticos como aquele do Glauber, que fiz questão de elogiar, acho que é interessante expor o que penso aqui também, pra que não fique apenas em nossas conversas de MSN. Eu vejo este blog como um folheto publicitário da Catraia. Eu tenho consciência de que os textos sempre têm a intenção de "vender" as bandas e expor unicamente o lado positivo delas, por isso não me deixo enganar pelo que leio aqui.

Eu leio este blog como eu leio um jornal como a Página 20, onde eu sei que por mais que o governo acreano faço alguma grande besteira, isso não será noticiado no jornal ou será distorcido de forma que a besteira do governo seja transformada em algo positivo pra população. Eu sei que lá os textos que enchem de elogios a administração atual e suas obras, não são plenamente confiáveis e constumam tachar de excelente o que é apenas razoável. É um exemplo de veículo parcial. Isso tem acontecido por aqui.

Se a gente considerar este blog como sendo um folheto publicitário, da maneira como eu acredito que seja atualmente, é aceitável. Se pensarmos nele como um veículo de comunicação, é condenável. Especialmente quando esta "censura" vai além dos limites deste blog: um músico de uma banda da Catraia não pode criticar bandas do coletivo porque é beneficiado por ele? É antiético?

Se você concorda com isso, então concorda também que um jornalista da Página 20 não pode criticar o governo, que é quem paga, indiretamente, seu salário. E onde fica a imparcialidade e a credibilidade? Isso, se este blog tiver um posicionamento de folheto publicitário, simplesmente não fica. Perde-se no ar, porque o público não é besta e prefere sempre veículos que retratem os fatos com fidelidade e não fantasiem os acontecimentos da forma que melhor lhe convierem.

Sei que você admira o Blog do Altino, por exemplo. Eu também. Se eu mandar pra ele um texto cujo conteúdo bata de frente com os interesses do governo, ele publicará, da mesma forma que publica com frequência textos elogiosos sobre a adminiração atual. E assim ele ganha o respeito e admiração meu, seu, dos leitores dele e de tantos jornalistas Brasil afora.

Portanto, abordando este segundo ponto, acho que em nome da credibilidade, se este blog visa ser fonte de informação e não apenas um instrumento publicitário, é preciso rever a linha editorial.

Abracetas!

Janu Schwab disse...

Fialho, não se trata de vender as bandas como se fossem produto, mas de louvar a iniciativa delas de fazer um som autoral em meio ao mar de covers e de forróbodós. É louvar a iniciativa dessas bandas que estão à quilômetros dos grandes centros culturais e do acesso mais rente a influências que fazem crescer.

E, desculpe, mas minha sinceridade continua intacta ao dizer que sim, dentro do conceito de construção de cena, uma Marlton tem tanta importância quanto um Porongas. As bandas estão aí tentando, se esforçando e amadurecendo. Assim como os que escrevem nesse blog - que é uma ferramenta institucional.

É um pouco dificil pra você entender o conceito do Catraia, que se enquadra no tipo de pessoa que espera um iluminadissimo Poronga aparecer a cada cinco anos e não percebe que o aparecimento e apoio a muitas novas bandas é um estímulo para que novos Diogos, novos Porongas apareçam.

Não sou contra a crítica. Sou a favor quando ela é feita com propriedade. E a propriedade técnica, repito, não cabe no alinhamento editorial desse blog. Alinhamento que você chama de censura, eu chamo de bom senso.

Quem quiser analisar tecnicamente as cinquenta pentatonicas de uma banda ou os erros constantes de outra, que faça em outro lugar - um lugar como o Grito Acreano, que, como disse a você em outra conversa franca, é o veículo ideal, que poderia ser uma ótima referência para tal por seu posicionamento engajado e imparcial.

Aqui no Catraia se erra fazendo e não confabulando. Acho incrível sua postura, Fialho. Só sai da toca na hora de baixar o pau nas pessoas que estão tentando fazer. É muito fácil fazer isso. Nunca vi você se posicionar para elogiar ou ao menos direcionar comentários construtivamente. Seus comentários são bem construídos (você tem um raciocínio aguçado), mas não constrói. Desestimula quem está tentando fazer, às duras penas. E a isso damos o nome de irresponsabilidade social.

Suas críticas exigem dos jovens jornalistas que eles sejam jornalistas de Veja, Carta Capital ou Folha de S. Paulo. Mas você esquece que eles estão se esforçando, dando a cara à tapa, como você fez um dia.

Muito mais que uma peça publicitária, meu jovem, o Catraia tenta à duras penas (já disse isso) criar uma metodologia na tentativa-erro-tentativa-acerto, enquanto recebe pedradas de gente inteligente e bem informada, que poderia ajudar a formular uma cena possível e preparada, mas que gosta de ver o barraco de longe, enquanto cruza os braços ou lixa as unhas.

Saudações.

thiago disse...

Primeiramente, antes que enxerguem isso como uma mera discussão, acho que essa nossa pequena troca de mensagens não está sendo em vão, até isso tem sua importância pro Coletivo.

Se o blog é mesmo ferramenta institucional, como você me confirmou agora, concordo que um blog como o Grito possa ser o veículo de comunicação da música acreana e que por lá haja imparcialidade e maior liberdade para os que por lá escrevem.

Janu, acho que você está enganado, qualquer das bandas jovens do coletivo - não vou citar nenhuma especificamente - não tem a mesma importância de um Porongas, mesmo sob o aspecto da construção da cena. E uma coisa que você talvez não tenha entendido: não é apenas pelo relativo sucesso que a banda conquistou até mesmo nacionalmente, ou pela inegável qualidade do seu trabalho.

Entra aí uma coisa que muitos que fazem o coletivo atualmente desconhecem, porque subiram na Catraia quando esta já estava em movimento. Se veio à tona a questão do que é fácil e o que não é, digo que fazê-la andar pra frente não é tão difícil, difícil mesmo foi construir a embarcação. Antes de se pensar nessa promoção da cena acreana, em coletivo e incentivo à outras bandas - todas iniciativas louváveis, sem dúvida - tivemos por aqui uma pequena revolução comandada pelos Los Porongas há alguns anos atrás. Foram eles os maiores incentivadores desta proposta de se fazer música autoral no rock acreano. Antes deles, até havia quem produzisse suas próprias músicas, mas faltava coragem para essas bandas darem a cara à tapa e subirem à um palco tendo a quase totalidade de seus repertórios compostos por músicas próprias. Os Los Porongas tiveram essa coragem, e tiveram apoio meu, do Neto, e de alguns outros que gostaram do trabalho da banda. Por isso, hoje, merecidamente, creio que eles devem ter uma importância destacada em relação aos novatos, que também são importantes pra cena.

Era difícil pra eles atrair público para os eventos em que tocavam. Mas nunca tocaram para as moscas, pois sempre estavam por lá pessoas que incentivavam a banda e, sem dúvida alguma, ajudaram a fazer do cenário acreano o que ele é hoje, pois ajudaram na consolidação do público que frequenta estes eventos e que montou suas bandas. Eu me incluo, orgulhosamente, entre estes. Junto com o Neto, botamos a banda na internet (criando site, comunidade no orkut numa época em que eram raras as comunidades de bandas acreanas por lá, colocando os primeiros vídeos de uma banda acreana no youtube, divulgando em blogs, indicando diretamente para nossos contatos da imprensa mais influentes - como o Lucio Ribeiro e o Sérgio Martins da Veja - etc), que foi o veículo que a fez ganhar o mundo. Levávamos um grupo de amigos que às vezes correspondia até a 30% do público total de um show deles. Um grupo que, por sua vez, atraía outras pessoas para conferir do que se tratava aquela movimentação.

Então, antes de dizer "ah, o Thiago só sai da toca pra reclamar e não faz nada", é bom ter consciência de que se hoje o pessoal que toca o barco tem um certo conforto pra realizar eventos com a certeza de que estes terão um público razoável e que existem bandas apostando na música autoral, eu e outros que às vezes têm sua importância diminuída atualmente, como se só jogassem pedras, certamente demos uma colaboração pra que isso fosse possível. Outros foram muito mais importantes, claro, mas nem por isso é justo dizer que eu só fico de braços cruzados e querendo ver o circo pegar fogo. Participei de uma coisa que hoje outros estão tomando conta e futuramente outros irão
tomar-lhes seus lugares, num eterno ciclo de renovação, que parece positivo pra todo mundo.

Acho ótimo, defendo e apóio o estímulo à novas bandas, e não espero só o nascimento de um iluminado Porongas. Não percebi onde disse o contrário no meu texto, portanto vou poupar nosso tempo e nem vou comentar sobre isso.

Todos os meus comentários, repito, todos, não são feitos à esmo, todos são construtivos. São feitos diretamente pra gente do Catraia - como você - ou em blogs como este, apontando os motivos que me fazem não concordar com alguma coisa e apontando alternativas. Não seria essa a definição de um comentário construtivo? Portanto não entendo como você nunca me viu fazer isso.

Não estou exigindo dos jovens jornalistas que escrevam como jornalistas experientes. Você às vezes tem um comportamento muito paternalista tanto em relação às bandas quanto às pessoas que escrevem aqui. E isso é ruim pra todos. As críticas com embasamento são necessárias, porque como você mesmo comenta, todos ainda estão aprendendo, e eu tenho certeza de que meus comentários sempre apontam caminhos, nunca são feitos com o intuito de causar alguma instabilidade ou desestimular quem está escrevendo aqui ou fazendo música ou evento aculá. Eu digo "não acho isso legal, acho que é melhor que façam de outra maneira", e não simplesmente "está tudo uma merda, desistam disso". Se minhas opiniões embasadas serão aceitas ou não, isso não é problema meu, mas acho importante que eu - ou qualquer outro - possa manifestá-las sem ser (aparentemente) propositalmente mal interpretado.

Sds!

Bandeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Janu Schwab disse...

Bom, Fialho, seus argumentos são muito bem estruturados e você, que felicidade, dá um ótimo jurista! Vou dar continuidade a eles pra que assim o assunto também fique claro aos satélites de plantão.

Entendo seu ponto de vista. Mas pra mim e para um monte de gente ele continua sendo o ponto de vista de quem segura o osso e não larga. Seu relato sobre seus esforços em relação a cena remetem a isso.

Pode não ser, mas parece. É como se você e alguns outros detivessem o fogo do conhecimento e, vez ou outra, apontassem aos meros mortais, que erram tentando acertar, a graça de todo esse saber.

Digo isso porque não vejo de uma forma construtiva o criticastro empenhado aqui por você e por alguns outros. As coisas por aqui (Rio Branco) ainda são encaradas como pequenos feudos, o que gera o nascimento de grupelhos e uma provável disputa entre eles: os de lá, contra os de cá, que se associaram com os dacoli. Mas tudo com o terrível slogan "farinha pouca, meu pirão primeiro"

A configuração de antes não cabe na de agora. Como falei a você em outro momento (que você sempre faz questão de não levar adiante, ao contrário das coisas negativas, que você leva e traz com dinamismo)o 'agora' pede a criação de metodologia pra que os esforços não se concentrem justamente em pequenos feudos.

Isso tudo que você mencionou, seus apontamentos "construtivos" acontecem nas internas do Catraia. São os direcionamentos que todos fazem, ouvem, dizem e se incomodam de dizer e ouvir. Acontecem ali, porque devem acontecer. A sua tentativa pode ser boa, mas a forma como ela chega não.

Sabe a clássica que diz "de boas intenções o mundo está cheio"? Posso até fazer uma enorme ponte geográfica e cronológica entre as intenções de cá, com as intenções passadas de um tal führer alemão - Hitler tinha boas intenções para a Alemanha. Mas encontrou péssimas formas de realizá-las.

O que parece uma comparação exagerada, deve ser analisado com muito cuidado, porque isso tudo está ínsito na psique humana e vem sempre travestido de argumentos muito coesos. Hitler tinha suas razões para odiar os judeus (havia uma máfia judaica entranhada na decadente sociedade alemã que aliciava meninas alemãs para a uma rede de prostituição internacional, além de outros problemas). O senso de justiça de cada um e as várias formas de cumpri-lo, nem sempre são as ideais, os mais justos.

Gosto de ti, Fialho. Te conheço há muito tempo e compartilho de muitas idéias contigo. Sei dos teus passos e em diversos momentos reconheci neles um quê de vanguarda por essas bandas (terras), entre eles o de apoiador de uma possível cena (ou seria banda?). E de tanto reconhecer isso, já te chamei várias pra integrar um quadro extra dentro do Catraia, não apenas para temporizar ou "calar a voz oposicionista" que há em ti, mas pra aditivar os passos catraieros. Tu se nega. Por orgulho, por preguiça, por convicção, por não concordar com isso e aquilo, que seja. Respeito.

Mas acho que uma forma de tu mesmo respeitar teus passos é validando-os através de opiniões construtivas, feitas com cuidado (porque propriedade até elas podem ter). E tu tem um canal aberto para tal, pois conversa comigo (e com outras pessoas atuantes no Catraia).

Você diz que não sabia da proposta institucional do blog do Catraia e mesmo assim criticou como se soubesse do contrário. Não precisa concordar. Precisa entender (essa é a propriedade, o embasamento). Porque depois que se entende, a coisa muda de configuração. Assim tu traz pro teu dia a dia a verdadeira solidariedade - que vai além do clichê babaca de ser bonzinho.

Aquele Abraço.

thiago disse...

Bom, Janu, considero ter dito o que senti a necessidade de dizer e não vou me prolongar muito mais no assunto. Já conversamos pelo MSN e entre nós acho não há interesse em manter a discussão por aqui. Que os outros possam tirar coisas boas dessas mensagens que trocamos.

Realmente me enganei quanto à proposta deste blog e peço desculpas pelo engano, mas espero que o blog do Grito Acreano tenha mesmo um posicionamento diferente, mesmo quando aqueles que por lá escreverem forem parceiros do Coletivo. Sobre isso, mesmo entendendo e respeitando seu ponto de vista sobre o assunto, continuo com a mesma opinião.

Só pra finalizar, tenho conhecimento de que algumas pessoas dentro do coletivo concordam com meus argumentos que foram aqui expostos, mas hesitam em se manifestar nas discussões internas. Não falo isso pra satisfazer meu ego, criar intrigas ou algo do tipo, só acho que o pessoal deve abrir o bico sim, acredito que há espaço na Catraia pra discussões saudáveis com opiniões distintas, e ninguém precisa se sentir obrigado a aceitar goela abaixo o que os outros, com mais experiência na área, disserem que é o correto.

Discussões frutíferas são boas pra todo mundo e todos cometem enganos. Acho que nisso você concorda comigo e também quer ouvir o que o pessoal tem a dizer.

Aquele abraço (por trás).