Em junho de 2011, o movimento audiovisual e a sociedade acreana foram pegos de surpresa com a notícia de que o filme Eu Não Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro – 2010), fartamente premiado no Brasil e no exterior, fora censurado no estado. O filme é parte do projeto Cine Educação, um desdobramento da Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos, realizado pelo Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e as secretarias de Justiça e Direitos Humanos e Educação do Acre.
O caso se deu da seguinte maneira: o filme foi escolhido pra ser exibido por uma professora na escola de ensino médio da rede pública estadual Armando Nogueira. Por desinformação, alguns alunos pensaram se tratar do “kit anti-homofobia”, nunca autorizado a veicular pela Presidência da República. Tal equívoco chegou rapidamente à bancada religiosa da Assembléia Legislativa, que determinou a proibição de exibição do filme e também a suspensão do projeto Cine Educação. A situação se mantém ainda nos dias de hoje, quase seis meses após o ocorrido.
Mais recentemente, em julho, a produção sérvia A Serbian Film – Terror sem Limites, foi censurada no Brasil, pouco antes de estrear no RioFan, festival realizado no Rio de Janeiro. O filme contém cenas fortes de sexo e violência, além de necrofilia, incesto, entre outros. O Ministério da Justiça já liberou sua classificação indicativa, mas a Justiça Federal concedeu liminar ao pedido do Ministério Público Federal e o filme está proibido de ser exibido comercialmente.
Há mais de vinte anos uma produção não era censurada no Brasil – excluindo-se aí o veto ao filme Amor, Estranho Amor imposto por Xuxa, sob a alegação de que não tinha cedido os direitos de imagem ao diretor do filme. A proibição da exibição dos filmes Eu Não Quero Voltar Sozinho e A Serbian Film reacendeu na sociedade a discussão sobre a censura. Há quem odeie o filme mas defenda sua exibição, há quem nunca tenha visto e defenda sua censura. Há quem viu e acha que a censura não é nada demais perto do que o filme propõe. A questão, a grande questão que fica é: pode um órgão decidir pelo público o que o público quer ver? Ou ainda: pode um realizador de uma obra audiovisual fazer o que quer, sem limites, em nome da arte? Mais: uma obra de ficção pode afetar a dignidade humana?
A proposta do ciclo do mês de Novembro do Cineclube Samaúma é justamente realizar esse debate, propor à sociedade essas questões, e deixar que a sociedade tome as decisões. Sem o debate, qualquer decisão – seja favorável ou contra a censura – é unilateral e, portanto, não representa o público, fiel da balança e alvo de produções audiovisuais.
O Ciclo Proibido do Cineclube Samaúma convida para a exibição e debate de filmes que já foram ou estão censurados. Queremos toda a sociedade civil, a sociedade religiosa, a comunidade audiovisual e artística e órgãos defensores dos direitos humanos conosco nesse debate. Pra que ao final do ciclo possamos responder à pergunta que dá título a esse release. Toda censura é burra? Existe limite pra liberdade artística?
Para abrir o ciclo, dia 03 de Novembro exibiremos o filme DiGlauber, documentário-alegoria sobre a morte de Di Cavalcanti dirigido por Glauber Rocha em 1977. Em seguida, no dia 06, exibiremos o filme Je Vous Salue, Marie, dirigido por Jean-Luc Godard em 1985. Historicamente, o último filme a ser censurado no Brasil antes de 2011. Fechando o ciclo, exibiremos no dia 20 de Novembro a produção A Serbian Film – Terror Sem Limites.
Tendo em vista o tema delicado do ciclo, a classifcação indicativa de cada filme será respeitada, e se for necessário a Associação Samaúma Cinema e Vídeo solicitará a comprovação da idade através de documento de identidade com foto. No caso, todos os filmes têm classificação indicativa para maiores de 18 anos, e não será permitida a entrada de menores, ainda que acompanhados dos pais ou responsáveis.
Lembrando que no início de cada sessão exibimos sempre produções acreanas. Dia 03 exibiremos o curta Amor em Pedaços, dirigido por Márcio Chocorosqui. Além dele, exibiremos o curta gaúcho A Ilha Das Flores, de Jorge Furtado. Dia 06, exibiremos o curta O Segundo Ponto da Animação, de Italo Rocha e Marcelo Zuza. E na última sessão, dia 20, exibiremos o filme Nóia – A Moral, dirigido por Silvio Margarido. Nossas sessões têm início às 19h, ali no Cine Recreio – Gameleira. Compareça e fortaleça esse debate.
Data: 03, 06 e 20 de Novembro
Local: Cine Recreio - Gameleira
Horário: 19h
Classificação indicativa: 18 anos
Entrada franca
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