quarta-feira, 14 de abril de 2010

Encontros do Festival Fora do Eixo 2010 marcam os próximos passos da rede

Sempre que possível, o Circuito Fora do Eixo aproveita intensamente as oportunidades dos encontros presenciais para atualizar este grande laboratório em constante processo de adaptações e retroalimentação. Durante a edição paulista Festival Fora do Eixo 2010, ocorreu uma das duas instâncias deliberativas da rede, e a agenda corrida de reuniões motivou o seguinte relato de Karla Martins.




Recorte...

Tenho uma mania de achar que a vida não possui sentido linear, que nada é por acaso e que as coisas se explicam com o tempo, isso é mania, mas as vezes.....Em 2005, por conta de um evento de cinema no Acre, conheci Ruda de Andrade (filho do Oswald de Andrade e da Pagu) naquela época um “jovem” da terceira idade, escritor, cineasta e entusiasta do mundo. De tudo que conversamos um comentário ficou. Segundo Ruda, na vida precisávamos de sonhos e boas ideias, os sonhos serviam para nos impulsionar e as boas ideias surgiriam da reflexão de como criar uma via para a realização destes sonhos. Ele lembrou e comentou nessa hora sobre o cinema novo. Guardei o comentário, apenas isso....

10 de abril, sábado....

17h, chegamos em um comboio de carros à Oficina Cultural Oswald de Andrade, no bairro do Bom Retiro em São Paulo. Antes cruzamos pela cracolândia e vi uma das cenas mais estarrecedoras da minha vida, não eram pessoas, parecia cenário de filme de terror, verdadeiros zumbis, assombrei-me com a visão. Como pode haver um lugar assim no mundo?

A oficina é um espaço sensacional, uma recepção, um corredor amplo, um teto de vidro, na parede do fundo um desenho realista de Oswald de Andrade observa o todo, nas laterais público de diversas faixas etárias circulando pelo local, sentados, lendo... era a primeira intervenção que eu assistiria do Palco Fora do Eixo, uma articulação de atores, produtores, diretores da teatro que começam a integrar a rede do Circuito Fora do Eixo.


A intervenção era uma performance interativa, mobilizou durante cerca de trinta minutos a platéia presente que cortou cabelos, vestiu, maquiou, brincou com bonecas, leu, enfim participou ativamente. Após a apresentação fomos chamados para sentar no jardim, no chão frio e conversarmos, já escurecia. Era a plenária final do II Festival Fora do Eixo.

Na reunião, os representantes de diversos estados brasileiros, de Manaus - AM a Santa Maria – RS, avaliaram o festival, as reuniões e reforçaram os desdobramentos nacionais para o ano de 2010. Entre o que foi discutido, a certeza que o Circuito Fora do Eixo caminha cada vez mais para se tornar um grande movimento nacional de Artes Integradas, que se interliga de muitas formas e, de maneira primordial, através das ferramentas digitais.

Contextualizando...

O Circuito Fora do Eixo é uma rede colaborativa pautada pelos princípios da economia solidária, formada por produtores culturais e artistas espalhados por todo o país. A rede começou com uma parceria entre produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR) que queriam estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos culturais.

Hoje existem 46 pontos Fora do Eixo em todo o Brasil, distribuídos por 18 estados brasileiros. O II Festival Fora do Eixo aconteceu em São Paulo e se desdobra nos próximos dias no Rio de Janeiro e em algumas mini turnês das bandas convidadas para o festival.



Impressões....

Em um país onde a diversidade cultural e as distâncias geográficas são intensas, uma articulação como o Circuito Fora do Eixo permite a tão propagada e necessária integração nacional de uma maneira absolutamente original e orgânica. O movimento busca a formação de quadros e a sustentabilidade, preservando as muitas alternativas propostas por cada coletivo que integra a rede.

A opção por um portal em software livre determina a clareza de política pelo acesso democrático e includente à informação. O protagonismo de cada coletivo é uma referência para a sociedade brasileira, que vem se debatendo ao longo dos últimos anos em um pós-ditadura massacrante para a cultura nacional.

Não posso afirmar muito mais, é que primeiro que posso concluir do II Festival Fora do Eixo e do circuito, que acompanho desde a criação. Mas posso intuir, após o encontro no jardim, que o circuito toma uma dimensão reveladora para a cultura brasileira. Posso afirmar, pela disposição e atenção com que vejo todos trabalhando, pelo brilho nos olhos dos integrantes do circuito, que essa articulação está no começo e que podemos esperar daí uma nova ordem para a cultura nacional.

Os integrantes do circuito assumem pouco a pouco o papel político de cidadãos questionadores e fazedores, necessários para o desenvolvimento cultural brasileiro. Vão ao encontro da descentralização da gestão com seus ideais de autonomia e se posicionam para o debate aberto, amplo e essencial. E o melhor de tudo: Acreditam piamente no que estão fazendo, disso não tenho dúvidas. O assunto é mobilizador, poderia escrever horas sobre, mas já... isto é apenas um registro.

Recorte 2....

Me lembrei do Ruda Andrade quando cheguei ao espaço Oswald de Andrade, óbvio....mas a compreensão estava por vir, reveladora e conclusiva: O Circuito Fora do Eixo se traduz no comentário do Ruda, um sonho e uma boa idéia. Um sonho de alguns jovens e uma boa idéia para estarem juntos. Assim como o cinema novo, da qual Ruda era um dos grandes apaixonados, o Circuito Fora do Eixo parte de uma idéia original, porém simples, um desejo: realizar um sonho de jovens que pensaram em articular nacionalmente e interagir juntos. A idéia e simples, mas contamina, pois é febril e apaixonante.

Como já disse antes: O circuito está apenas começando. Vida longa ao Circuito Fora do Eixo.

Karla Martins, Coletivo Catraia.

Visite!

Um comentário:

Eduardo Di Deus disse...

Massa, Karlota!
Foi muito bacana a ocupação de espaços na capital paulista, não só com a música!
Vamo que vamo.