sexta-feira, 17 de julho de 2009

Só Se For Pra Ser Sincero: Fred Margarido

por Victor Manfredine e Kaline Rossi
Nosso entrevistado de hoje é Fred Margarido. Ele, ex-integrante da banda Nicles, e agora tecladista da Caldo de Piaba, fala de ambiente musical, dedicação, formação de bandas, projetos, dá até uma de poeta!, como também fala de projetos de sua nova banda: a Caldo de Piaba. Formada recentemente por Fred, Artur Miúda, Eduardo de Deus e Saulo Machado, a banda nasceu para contradizer a velha máxima regional, fazendo um som diferente do que a galera está acostumada a ouvir. Suas influências são brega, jazz, blues, rock, funk e samba, e partindo disso, tocam um som instrumental bem próprio. Confira então a entrevista:
Fred Margarido e seus teclados por Élisson Magalhães

CATRAIA:
O que você acha da questão da força de vontade, esforço, dedicação.. a trabalheira que dá, por exemplo, pra se montar uma banda? Enfim, primeiro eu quero um conceito seu: O que é para Fred Margarido, formar uma banda?

FRED MARGARIDO:
Penso que a dedicação, o esforço, a força de vontade prestada dentro do grupo/banda viabiliza as futuras apresentações, como também é importante a unidade do grupo. Quando uma banda não preza por esses valores, ela acaba estacionando. Formar uma banda é algo bem fácil de fazer: Reúna amigos que tem em comum o gosto pela música e comece a ensaiar, pronto: foi formada a banda. Difícil é manter essa banda em circulação.

CATRAIA: Qual a sua história como músico? Começou a tocar ainda criança? Fora a Nicles e a Caldo de Piaba, já participou de algum grupo musical ou fez algum curso pra aprender ou se aperfeiçoar nos teclados?

FRED MARGARIDO: Meus pais são evangélicos, então quando criança escutava muita música gospel. Meu pai me comprou um teclado e eu comecei a tocar na igreja. Toda minha infância toquei e estudei música gospel; só na adolescência é que comecei a escutar blues e música popular brasileira. Percebia uma relação muito grande da música gospel com o blues, e daí parti pro blues. Em 2002 conheci Kilrio Farias, pois morávamos no mesmo bairro e estudávamos juntos no ensino médio. Ele já possuía uma banda: a Nicles, e me convidou pra ir num dos ensaios da banda. Mas antes não, antes só tocava com grupo formado por músicos evangélicos. Também participei de algumas apresentações da banda Mapinguari Blues, mas eu fiz poucas aulas de teclado. A música que toco aprendi nas minhas andanças pelos grupos que participei aqui em Rio Branco e em alguns exercícios que faço em casa. Ouço muita música e tento reproduzí-la, é isso.

A banda Nicles e uma de suas primeiras formações.

CATRAIA: Como você analisa sua passagem pela banda Nicles? Sua temporada de tecladista por lá, te ajudou de alguma forma a estender seu talento de músico, a aperfeiçoar aptidões?

FRED MARGARIDO: Minha passagem pela Nicles foi boa, escutávamos muita música européia e era tudo novo pra mim. Muita coisa diferente e boa encontrei na minha passagem pela banda, como Radiohead, ColdPlay, Smash pumpkins, The Cure, Interpol.. Me ajudou a decidir qual caminho seguir em relação a sonoridade. Antes da minha saída percebi que eu estava rodeado de muita harmonia, e daí sempre queria fazer canções, não mais rock, que era o que estava rolando muito na época. Me lembro que tínhamos acabado de chegar de uma mini-turnê pela região Centro-Oeste onde tocamos muito Rock'n Roll, e eu estava exausto de tudo aquilo. Criamos a canção Rimas, que eu considero uma das mais belas canções do Kilrio, como também Nuvens de Nanquim.. Então o mais viável pra mim seria sair da banda e esperar, continuar pesquisando.

"A Nicles é uma banda grunge, uma banda de sonoridade densa e acho que a minha passagem pela banda Nicles marca um tempo de composições mais harmoniosas e suaves, trazendo mais harmonia pra banda.."

Já havia algum inútil discurso transcendetal a ser dito?

CATRAIA: Quando você, juntamente com Saulo Machado, Artur Miúda e Dudu Di Deus decidiram formar a Caldo, já era consenso entre os integrantes, fazer uma banda que tocasse somente som instrumental, ou foi algo que vocês optaram por acaso?

FRED MARGARIDO: Rapaz, a idéia da Caldo é fazer um resgate de músicas já esquecidas e que marcaram época, colocando nelas novos ingredientes e dando a elas um tempero que acreditamos ser novo. Ainda não aconteceu de uma música precisar de voz, porque eu e o Saulo fazemos as partes cantadas das músicas, assim de leve.

CATRAIA: Fred, e diz aí: Porque mesmo o nome “Caldo de Piaba” pra banda hein?

FRED MARGARIDO: Esse foi um nome que o Kilrio Farias sugeriu e que nós acatamos. Remete a um caldo bem ralo e fraco, mas que na prática tentamos mostrar o contrário.

CATRAIA: Já se fala muito agora do projeto que a banda tem, de sair de kombi se apresentando pelo interior do estado. Projeto até já aprovado na Lei de Incentivo. Fala dessa iniciativa aí. E das coisas que a Caldo de Piaba anda planejando pra esse segundo semestre do ano de 2009.

Miúda, Saulo, Fred e Eduardo: Caldo de Piaba em foto de Talita Oliveira

FRED MARGARIDO: A idéia do projeto partiu da necessidade de divulgar e circular nosso trabalho, levar nossa música a outros e perceber como soa isso, qual a receptividade das pessoas. Eu e o Miúda decidimos elaborar o projeto, aí nesse semestre estamos trabalhando em composições novas e fazendo uma pesquisa sonora de compositores acrianos como Da Costa, Jorge Cardoso, Grupo Capu.. Queremos fazer shows com parcerias desses compositores. Além disso estamos participando mais intensamente das atividades ligadas ao Coletivo Catraia que também ajuda à contribuir.

CATRAIA: Você acha que tocar música instrumental é mais difícil realmente como parece?

FRED MARGARIDO: Eu gosto muito de blues, o Saulo curte mais rock'n roll, o Eduardo, funk e o Miúda, brega. Daí todos colocam seus gostos musicais, e o resultado sai bom.


"A música instrumental me dá uma liberdade muito maior de improvisar e de colocar na música aquilo que eu gosto, daí o gosto pela música propriamente dita."

CATRAIA: Como você tentaria convencer uma pessoa que não gosta de música sem letra pra se cantar, à mudar de opinião?
FRED MARGARIDO: É difícil convencer. A pessoa precisa deixar a música falar por si própria, a partir daí, e somente a partir daí, ela vai mudar de opinião.

Caldo de Piaba em apresentação na Toca do Lobo por Élisson Magalhães

CATRAIA: Você é daqueles que acha que a música tem poder pra mudar a consciência das pessoas e transformar a realidade social?

FRED MARGARIDO: Sim. Acredito muito nisso. Nas bandas daqui como também nas bandas de Brasília, por exemplo. O Grupo Capu, a Nicles, Os Alquimistas, os Los Porongas, e em Brasília com a Legião Urbana. As composições de Renato Russo, por exemplo, também têm muito isso.

"Sinto muito isso nas bandas acrianas: A música e as letras são carregadas de força. Cada acorde ou nota que é executada libera também indignação e insatisfação por alguma coisa, e isso soa bem."

Fred passando som, concentrado em achar o melhor acorde.

CATRAIA: E pra fechar a entrevista, vamos a um momento interessante de certa provocação. Respire fundo, olhe tudo o que você já fez ou gostaria de fazer e fale o que vier à sua mente agora, nesse instante. Sobre qualquer coisa, qualquer assunto, pra quem você quiser, fale. Só não se esqueça de ser sincero.

FRED MARGARIDO: Quero agradecer ao Coletivo Catraia pelo espaço que me dá aqui no blog como também nos eventos que realiza, e dizer que tenho aprendido muito com esse coletivo. Ah e me despeço deixando uma frase pra galera: "É preciso aprender a navegar em um oceano de incerteza em meio a arquipélagos de certeza." Obrigado pessoal!

3 comentários:

Thalyta França disse...

Ai que legaaaaaaaaaaaaaal! =DDD
adorei!

Bandeira disse...

GRAAAAANDE MESTRE!

Esse ainda vai deixar um grande legado a música acriana!

Eduardo Di Deus disse...

Valeu Frederich!