domingo, 24 de maio de 2009

Só se for pra ser sincero com Ricardinho Costa

Por Victor Manfredine e Kaline Rossi

Só se for pra ser sincero. É assim que a gente estréia a nova coluna do blog do Coletivo. A cada 15 dias estaremos entrevistando um convidado ligado ao cenário musical e cultural acriano, que vai falar um pouco sobre questões ligadas ao nosso jeito de fazer, consumir e propagar cultura. Músicos, produtores, atores, fotógrafos, cineastas, resenhistas, blogueiros, pra saber deles o que a gente sempre quis saber e nunca teve oportunidade de perguntar. Estilos, gêneros, influências musicais, ideologias e claro, sugestões e idéias de coisas novas a se fazer. Dessa forma, aos poucos colecionaremos idéias que acabarão alguma hora se completando. Talvez servindo como espelho pra quem esteja começando, talvez colaborando com a carreira de quem já está no cenário, talvez apenas alimentando algumas curiosidades nossas mas com certeza: sendo um caminho fácil de busca para quem, como a maioria de nós, está sempre à procura de algo mais.

O nosso primeiro entrevistado é o Ricardinho Costa, baixista das bandas Maria Joana e Silver Cry, grande incentivador do gênero heavy metal de nossa terrinha, numa conversa sobre música, política, festivais, gravação de Cd e outras coisinhas mais.

Ricardinho Costa, por Talita Oliveira

CATRAIA: Primeiro um conceito seu: O que é o Heavy Metal por Ricardinho Costa?

RICARDINHO COSTA: O heavy metal - o gênero ao qual eu tô mais ligado - além de um estilo musical é um estilo de vida também. É tanto que dá de ver a diferença pros outros estilos, não só na questão de vestimenta e tal. Aliás, tem um documentário que chama A Jornada de um Headbanger, feito por um antropólogo americano, onde ele tentou descrever o que é o heavy metal tentando ver do lado cultural a coisa. É bem interessante e eu aconselho pra galera que tiver interesse aí.

CATRAIA: Você está a quanto tempo atuando na cena do metal acriano?

RICARDINHO COSTA: Tocando eu comecei em 1998, com uma banda que não era de metal. Em 2000 a gente começou com a Silver Cry. Aliás, a Silver completou nesse último dia 20, 9 anos em atividade já e é uma das mais antigas, junto com a Fire Angel que é ativa aí também.


CATRAIA: Assim como em todos os estilos de música, realizar um evento requer muito trabalho. Hoje em dia tem como fazer um evento de qualidade sem parcerias, apoios ou patrocínios?

RICARDINHO COSTA: Nesse aspecto, é bom dizer que o Feliz Metal nasceu com essa idéia. Porque eu comecei a produzir também em 2000.
"Na época se a gente não produzisse a gente não tocava. Então eu tive que produzir pra poder tocar."
Por isso sempre falo que sou produtor, porque tive que aprender a produzir e até gosto de produzir também. Aí começamos em 2000 com alguns shows. Em 2004 quando começou o Feliz Metal, a gente não queria parceria com Governo, esse lance político no meio, pra ser uma coisa independente realmente e até que fizemos o 1° e o 2° dessa forma. Só que mexer com bandas, como a gente mora num lugar onde tudo é caro, é complicado. Quando a gente decidiu trazer uma banda lá de Santa Catarina pro 2° Feliz Metal, a gente tomou prejuízo. Aí foi quando teve a “abertura política” e a gente teve que pedir apoio. Ano passado a gente entrou com o projeto na Lei de Incentivo e foi aprovado, assim como esse ano também.

CATRAIA: Então aquele pensamento anarquista de que underground que é underground não deve utilizar de recursos públicos, dinheiro do Governo, etc. já era?

RICARDINHO COSTA: Eu acho que isso é um atraso pra tudo que a gente já viu. Tem gente que ainda defende isso aí, mas eu acho que não.. não tem condições. Nossa história aqui já tem muito tempo e agora que as pessoas estão começando a abrir a cabeça, pensando em Lei de Incentivo.. Eu acho até uma vitória já um projeto de heavy metal sendo aprovado. Quer dizer: Isso tudo é pela historia que a gente tem. Mas se a gente continuar com essa de não pedir apoio, a coisa não vai andar. Dá pra fazer também, mas nos grandes centros. Aliás, numa discussão com um produtor do Paraná, eu disse isso pra ele: - Pô cara, tu mora no Paraná. Você quer fazer um evento independente você faz. Você olha pro seu redor, tem cidades perto. Agora vem pro Acre, ficar no meio da floresta! Você pode até conseguir fazer o evento, mas não vai conseguir trazer uma banda de grande expressão pra cena, sem apoio.

Maria Joana: projeto paralelo


CATRAIA: Como surgiu o projeto do Feliz Metal? Está satisfeito com os resultados das cinco edições do projeto?

RICARDINHO COSTA: Esse ano vai acontecer a 6ª edição e tô satisfeito sim, com certeza. Mesmo porque se não tivesse eu já tinha parado de fazer. E aí o Feliz Metal foi uma questão mais assim: se a gente não fizer, as pessoas vão esperar um pelo outro e aí a gente que tem que fazer mesmo. Então eu tô satisfeito e todo ano a gente tá aí pra fazer. Mas não sou só eu que estou fazendo e é importante citar isso. São várias pessoas que querem que aconteça, que trabalham pela causa, de graça mesmo, sem ganhar nada.

Feliz Metal: projeto aprovado na lei de incentivo à cultura vai para a sua 6° edição.

CATRAIA: Antigamente os eventos de música aqui em Rio Branco não costumavam cobrar ingressos e o público comparecia bem menos. Porque então você acha que o público de hoje é maior, mesmo com a cobrança de ingressos em alguns eventos? O que aconteceu com esse nosso “mercado musical” local?


RICARDINHO COSTA: Eu acho que isso é o reflexo da seriedade da coisa. Não dá mais pra levar na brincadeira. Quando eu entrei no cenário eu era muito novo e tal e não pensava muito em nada. Mas agora a gente tá ficando velho. Se a gente continuar brincando, o que é que a gente vai comer? Temos que começar a valorizar, não pra ficar rico com isso aí nem nada, mas pelo menos pra não ter prejuízo. Porque a gente pagava pra produzir. A verdade era essa. A gente tirava do bolso pra fazer evento. Aí eu decidi que não queria mais tirar do bolso pra fazer evento. E começou essa coisa de cobrar ingresso, as pessoas começaram a se conscientizar também que tem que apoiar. E a qualidade das bandas também ajudou, é claro. Se for tratado com seriedade, a galera vai pagar. Agora se for tratar na molecagem, aí não tem condições não.
"Os caras pagam um monte coisa, porque não podem pagar pra ver uma banda daqui tocar, valorizar ela?"
CATRAIA: Em sua opinião quais os avanços que a cena de metal acriana vem acumulando, todos esses anos, diante de novos eventos e do surgimento de novas bandas?

RICARDINHO COSTA: No primeiro Feliz Metal apenas uma banda tocava músicas próprias. Depois começaram a fazer suas músicas e isso aí foi um avanço. Depois a bandas viram que era importante ter um material de divulgação. Agora com a era do Myspace, mais ainda. O próprio Airton Diniz, o cara da revista Roadie Crew, que é uma revista importante pra nossa cena, quando esteve em Rio Branco me falou que só trabalha agora com Myspace.
"Uma coisa que me deixou muito feliz é que a seleção do Feliz Metal esse ano vai ser feita por Myspace e quem vai analisar as bandas que vão participar, é o pessoal da Roadie Crew. Isso é um avanço pra gente."
Em outra época a gente não poderia trabalhar assim nunca, porque as bandas não tinham nada gravado. Agora não. Só aqui tem mais de 10 bandas com Myspace e pelo menos uma música já gravada e isso sim é um grande progresso. Acho que isso mostra que a coisa tá amadurecendo mesmo. Que ninguém quer mais brincar. Porque gasta dinheiro, gasta tempo. E se for pra brincar aí não dá não.
"Porque produzir é um trabalho que dá muito trabalho mesmo e só quem tá fazendo sabe."
Silver Cry e sua antiga formação.

CATRAIA: Qual futuro você enxerga para as bandas de metal hoje em dia no Acre? As bandas que estão começando, por exemplo, irão passar por todas as dificuldades que você e suas bandas passaram ou a base está formada, têm seu público próprio e a aceitação de bandas mais novas se torna mais fácil?

RICARDINHO COSTA: O primeiro passo foi dado. Até porque uma banda quando surge hoje em dia, já vai pensar no Myspace dela, na gravação do disco, vai querer fazer uma música melhor do que aquela outra banda, e isso tudo vai influenciando. Antigamente não. Quando se criava uma banda: Ah vamos tocar a música do fulano de tal. Quando a gente começou a nossa banda a gente fazia o que as outras bandas faziam, a gente tocava a música dos outros e era aquilo ali e tudo era muito legal.



CATRAIA: Com exceção do heavy metal, qual o gênero musical que você mais gosta de ouvir?

RICARDINHO COSTA: Quando comecei eu não tocava heavy metal. Na verdade, é difícil alguém começar ouvindo heavy metal, porque é um gênero que não tava muito na mídia, na nossa época, já que somos ligeiramente mais velhos. Você acaba conhecendo as coisas quando tá passando na mídia mesmo e o heavy metal não é tão assim. Então eu comecei ouvindo coisas que estava tocando mesmo, tipo Engenheiros do Havaí, Legião Urbana, Raul Seixas que eu gosto e conheço muito, até mesmo o chamado “Lado B”, que é uma coisa mais underground mesmo. Tem Pink Floyd... então não é só o metal não, sabe. E assim, com o passar do tempo, você não vai só ficar ouvindo som pesado mesmo. Você vai ouvir outras coisas também.

CATRAIA: O que você diz pras pessoas que consideram o heavy metal música de doido, sem melodia, sem nexo, sem letra? Como você defende sua música?

RICARDINHO COSTA: Se o cara fala isso eu não tenho nem porque tá discutindo com ele, porque ele é ignorante. E eu não vou perder meu tempo discutindo com ele. E não procuro falar não, ficar explicando. Ele que vá procurar saber das coisas antes de falar.

Flyer do Metalhukas: Ingressos a R$ 1,00 que ajudam na gravação do cd da Silver Cry

CATRAIA: O que Ricardinho Costa anda produzindo agora? A Silver Cry, por exemplo, anda com algum projeto em vista?

RICARDINHO COSTA: A Silver Cry tá em estúdio, com cinco músicas quase finalizadas, ali no estúdio do José Risley. Estamos gravando e vamos gravar mais umas três, com recursos próprios da banda, que a gente tá angariando fazendo o Metalhukas, cobrando a entrada de R$1,00 e vendendo a cerveja. Com esse lucro a gente tá conseguindo gravar essas músicas. E agora a gente tá atrás de outra forma de apoio pra mandar prensar esse disco fora do estado. A idéia era lançar até o final do ano mas, quando se fala de produção, é difícil prever as coisas. Então fica assim, mas até ano que vem ele vai tá aí pronto.

CATRAIA: E pra fechar, vamos a um momento interessante da entrevista. Utilizando um básico “ctrl c” (do bem) do programa Provocações de Antônio Abujamra, na TV Cultura: Respire fundo e fale o que vir à sua mente agora, sobre qualquer assunto. Você é livre. Use sem medo a sua sinceridade.

RICARDINHO COSTA: Pô, eu queria era aconselhar as bandas a se tratarem com respeito, se valorizando. Porque eu acho que tá faltando um pouco disso. Não sei por que as bandas acham que não tem que receber um cachê.
"Não sei por que as bandas acham que é impossível conseguir alguma coisa só porque a gente tá no Acre. Onde as pessoas vêm dificuldades, aqui eu vejo oportunidades."


3 comentários:

Menina França disse...

cara.BOM DEMAIS Ó.
acho super válido toda e qualquer movimentação cultural,parabéns pra eles! o que não podemos e ficar parado esperando que alguém faça por nós.super massa a entrevista, ricardinho é gente boua cáára.rs
;)

Thalyta França disse...

arre! rs eu aí em cima, mas a thays compartilha da mesma opinião com certeza.;P

Anônimo disse...

Eu achei a iniciative do Catraia ótima, ótima! O objetivo do Pari Passu também é apresentar o artista acreano ao Acre, seja ele de qual segmento for. Juntos e avante! Urruh!
o/