segunda-feira, 9 de junho de 2008

No Alvo - Marketing e Cultura


Indivíduo e Coletivo

O Bluebus é um site de notícias voltado para o mercado de Marketing, Publicidade e Propaganda. Começou despretensiosamente, com informações rápidas, num tempo em que blog ainda era algo quase inexistente na Internet. Certo e o que isso tem a ver com o Catraia, com o Acre e com a cultura independente? Calma lá, cara-pálida!

Lendo o Bluebus hoje, vi um artigo do Luiz Alberto Marinho, publicitário carioca, com o sugestivo título "Sociedade individualista começa a pensar no coletivo" (lê aqui) , com uma abordagem da famosa campanha "Priceless" da Mastercard. A campanha, que no Brasil ganhou o mote "Não tem preço", já faz parte da história da publicidade mundial (você com certeza sabe qual é).

Marinho aborda o tema, salientando um tipo de posicionamento da equipe de Marketing da agência McCann de Nova Iorque diante de seu cliente e a sociedade, através de pesquisas e análises para se chegar as tendências que envolvem as pessoas nos seus passos na busca de seus objetivos. A pesquisa, batizada de "What Matters?" (O que importa?), descobriu três dessas tendências: a busca pelo aprendizado contínuo, a redefiniçao da idéia de futuro e a mudança do eixo do 'Eu' para o 'Nós'.

Diz que apesar de fartas - e atuais - manifestações de narcisismo, materialismo e individualismo as pessoas estão "percebendo que o sacrifício de permanecer conectadas, atualizadas e multi atarefadas 24 horas por dia, 7 dias por semana, não está trazendo os retornos esperados" e por isso estão progressivamente direcionando o "olhar com mais atenção para a família, os amigos, o prédio, o bairro, o país e o planeta".

Esse artigo me fez refletir sobre o papel do indivíduo, do coletivo e do marketing nas mudanças de pensamento e ação do mundo, em escala micro e macro - aquilo que começa comigo e chega no todo. A pauta desse nosso mundo ainda é o lucro, claro. O capitalismo produz algumas anomalias, mas possibilita - com um pouco de luta - ao bom-senso um pouco mais de ar.

E a cultura? Ora, cara-pálida, a sociologia diz que cultura é conjunto de conhecimentos acumulados e socialmente valorizados, que constituem patrimônio da sociedade. O que é sociedade se não um coletivo de pessoas? O que é coletivo de pessoas se não a união de indivíduos? O que é o indivíduo se não um reflexo do coletivo? O mundo reflete o que o indivíduo é. E vice-versa, num ciclo que precisa ser partido e reconstruído.

A cultura é reflexo daquilo que o indíviduo vê, sente, processa e expressa, juntamente com outras pessoas. E com certeza é na cultura que uma parte da tal mudança que vem acontecendo no mundo está acontecendo. O compartilhamento de conteúdo (mp3, verbetes, artigos, filmes, fotos, etc) e o declínio gradativo das antigas formas de produção e distribuição da cultura são um reflexo disso: a democratização da tecnologia é o adensamento de várias filosofias e formas de fazê-las.

A saída está na cultura e em suas cadeias produtivas. Nesse caso, a cultura não tem preço pela imenso número de valores e possibilidades que ela ajuda a produzir. Daí, todo posicionamento, seja micro ou macro, seja de marketing ou não, deve ser pensado de de forma ampla. Antes da auto-promoção, é preciso pensar em formas de promover o todo, para que este todo permita a promoçao de muitos (inclusive você).

Hoje, o cara tocando sua guitarra (ou seu baixo, sua bateria), cantando seus versos, escrevendo seus contos, rabiscando suas telas - ou apenas assistindo a isso tudo - está participando da mudança no processo de fazer e consumir cultura. E esse é um processo que implica entender que o "eu" nada é sem o "nós" (e vice-versa) e que esse discurso, além de voz, precisa ganhar ação.


Janu Schwab
é publicitário e colaborador do Catraia.
Escreve, a partir de agora, semanalmente
sobre marketing, planejamento e cultura.



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