Já faz alguns dias desde que Cuiabá foi, pela segunda vez, palco de mais um festival de sucesso. O II Volume Festival, realizado nos dias 13, 14 e 15 de junho na Casa Fora do Eixo, contou com a participação de bandas independentes de sete estados diferentes além de Cuiabá. O Coletivo Catraia, como anunciado anteriormente, indicou a banda Calango Smith como representante do Acre. O vocalista, Diego Guerra, escreveu um pequeno diário contando desde a produção antes do festival como da apresentação e da troca de idéias com outros participantes do festival.
Por Diego Guerra
Já era noite em Rio Branco, mais ou menos umas 18 horas do dia 28 de maio quando meu celular tocou:
- Alô! Diego! - Era Caju, uma das produtoras do Volume Festival ligando para confirmar nossa participação no evento. – Ãh?! Quem?! – Fiquei muito surpreso, pois, completamente alienado, até então nunca tinha ouvido falar de Festival Volume, ou qualquer outro festival em Cuiabá que não o Calango.
Lembrei de uma conversa muito estranha com Diego Mello, o Dito (vocalista e guitarrista da Marlton) durante um ensaio da Calango Smith no Catraia alguns dias antes: perguntou se eu havia recebido um telefonema, sobre algo muito bom para banda. Como em nenhum ele momento falou o que seria realmente (Ah sacana!) fiquei aguardando durante dias e nada. “Ah esse Dito tá de sacanagem”, pensei. Então esqueci completamente.
Quando Caju me ligou não pude confirmar. Expliquei que era uma surpresa, que não estava sabendo de nada. Ela me disse que já tinha conversado com Dito, e que a Calango Smith seria a representante do Coletivo Catraia no Festival. Diante daquela situação constrangedora pedi para confirmar depois.
Reuni-me posteriormente com os membros do Coletivo Catraia, falando que, por ser nossa primeira vez fora do estado, precisaríamos do apoio de todos. A princípio eu e os outros da banda partimos sozinhos. Nossa dificuldade seria o deslocamento até a capital do evento. Entregamos ofício e a carta convite do Festival para tudo o quanto foi de deputado, vereador, fundações, empresários, e até o sindicato da empresa onde trabalho foi abordado.
Mas só conseguimos o feito quando, junto com o nosso ofício náufrago, caiu nas mãos de um dos deputados um outro documento assinado pelo Coletivo Catraia. Pôde ele observar que se tratava de um movimento independente, organizado e empenhado a desenvolver a cultura local. (Palmas ao Coletivo Catraia!)
Isso mostra o peso da coletividade em o nosso movimento. Depois de tudo partimos para Hell City, acompanhados até a rodoviária por Janu Schwab e Kaline Rossi (dois dos pilares do Coletivo Catraia):
Janu: Vão lá! Mandem ver! Suguem tudo o que eles têm de bom para fortalecer nosso Coletivo.
Eu: Beleza! Falou! Vai ser nossa melhor apresentação. Até mais! Mandamos notícia! Grande Abraço!
Já em Hell City pontos positivos: depois de três dias acordados dentro do ônibus, ficamos impressionados com a hospitalidade e o zelo do coletivo cuiabano conosco. Antes de irmos para o hotel ficamos na casa do Paulo Kyd, fotógrafo do Volume/Espaço Cubo, onde conhecemos o cachorro dele, o Zezo. Um figuraça beberrão, fumante e compulsivo sexual.
Conversamos com o Paulo, ele então nos falou sobre o Volume (Voluntários da Música). Explicou que era um coletivo de cultura dentro do Espaço Cubo e que era tocado por uma gurizada de 15 a 22 anos. (Obs.: gurizada - termo demasiadamente utilizado pelos cuiabanos).
Ficamos impressionados com a organização do evento, mais pelo fato de ser produzido por essa gurizada novinha ainda, mas que tem uma cabeça. Eles tocam o coletivo como a própria vida, se empenhando ao máximo. Participei de uns debates que falavam do movimento coletivo independente, e o novo cenário que cerca a música fora do eixo RJ/SP. Vi que eles estão em um grau de organização bem superior ao nosso, mas saí de lá entusiasmadíssimo, cheio de coisas boas na cabeça, querendo agitar o Coletivo Catraia quando chegasse ao Acre.
Sobre a nossa apresentação no Volume Festival, chegamos no mesmo dia da apresentação, depois de trinta e tantas horas acordados. Infelizmente nos colocaram para tocar no dia das bandas de Hard Core e Heavy Metal, gêneros completamente diferentes do nosso, e com um público que nem se presta a ouvir o que a gente toca.
Apesar de pouca gente ter parado para ver a Calango Smith e a aparelhagem de som ter dificultado nos ouvirmos no palco, sem modéstia, fizemos melhor. Falo pela qualidade da reprodução das músicas no palco. Tocamos com um peso que eu não imaginava que tivéssemos.
Os poucos que viram fizeram questão de cumprimentar a banda que veio do Acre. Saindo do palco fomos convidados para ir a uma escola da periferia da cidade tocar ás 7 horas da manhã do dia seguinte. O show fazia pate de um projeto de difusão da cultura em Cuiabá, o Calango na Escola, desenvolvido pelo Espaço Cubo/Volume, projeto este que tem fortalecido a imagem do coletivo cuiabano perante a sociedade.
Topamos na mesma hora. Dormir para quê?! Perder tempo, nem pensar! Ter participado do Volume Festival e do Calango na Escola fez a banda crescer muito, trocando idéias com outros operários da coletividade. Conhecemos várias pessoas que, assim como nós do Coletivo Catraia, têm buscado a expansão da cultura pelas vias independentes, além de termos fortalecido nossa concepção de coletivo. É isso. Valeu!
2 comentários:
Bom demais hein gurizada!
Aliás, nunca ouvi ninguém de cuiabá falando isso, é moda nova? oO
Aquele povo lá é demais!
Parabéns!
Muito bom...
Fortalecer, espandir, formar, capacitar e crescer.
Estamos escrevendo nosso parágrafo na história da produção cultural acreana meus caros. (y)
Grande abraço.
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