quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Caldo da peste, Piaba no nordeste a turnê que levou a música instrumental acreana para dar um passeio no outro braço do Brasil.

Ao contrário do que se imagina, as distâncias entre o Sul e o Norte não são as maiores do Brasil. Por rodovia, Rio Branco e Porto Velho estão mais próximas de Porto Alegre do que de Belém ou qualquer capital do Nordeste. Como não temos linhas retas saindo do Acre direto para o nordeste, foram mais de 56h viajando. Mais de (5.124 + 125+ 632 + 839 + 191 + 191 + 120 + 185) 6.568 km percorridos entre Rio Branco (AC), Maceió, Arapiraca (AL), Salvador (BA), Recife (PE), Campina Grande (PB), João Pessoa (PB) e Natal (RN). 2 aviões. 8 ônibus interestaduais e intermunicipais. Alguns outros de transporte coletivo urbano. 8 camas diferentes. Alguns lavabos e banheiros químicos. Mais de 15 coxinhas de frango. Alguns outros sanduíches. Bloqueador solar fator 30. Mais de 30 garrafas de água mineral. 2000 mil fotografias digitais e mais uns outros tantos vídeos amadores. 50 cds do caldo de piaba espalhados por aí. 41 e uns outros vieram parar no Acre graças a turnê apoiada e patrocinada pelos vários coletivos que compõe o circuito fora do eixo, viabilizando uma banda sair do Acre e mostrar seu trabalho por esse brasilzão adentro.

A articulação nacional e local e a compreensão do processo são a chave de tudo. Na hora de buscar na rodoviária, de dar almoço, de dar um colchão, tudo parece estar sendo feito por amigos, mesmo que na maioria das vezes, as pessoas nem se conheçam. Chama-se parceria.

A primeira parada foi em Maceió (AL). O show que deu a largada da turnê com três (quatro) pés direitos, aconteceu na praça, à beira da praia, com blocos de carnaval passando e marchinhas tocando. O Grito Rock Alagoas organizado pelo Coletivo PopFuzz aconteceu na capital e no interior do estado. Em Maceió teve direto à chuva pra refrescar, que ao invés de dispersar, fez foi atiçar o público. Destaque nosso para as bandas Gato negro, Coisa linda Sound System, My midi valentine, Pumping Engines e Dad fucked and the mad skunks.

Mais ou menos 2h30 de Maceió, a segunda maior cidade de Alagoas que tem nome de árvore e já foi um das maiores produtoras de fumo (tabaco), foi palco do segundo show da turnê: Arapiraca. 5 bandas tocaram antes do Grito Rock ser interrompido pelos nossos conhecidos Policiais Militares. O prazer de lembrar a vitória do Asa de Arapiraca sobre o Rio Branco Futebol Clube também fez com que o público respondesse positivamente ao show do Caldo de Piaba.


Salvador, Bahia. Quase um dia inteiro de viagem que valeram a pena, os km, as coxinhas de frango e o sono. Cassinha, do Coletivo Quina Cultural, deu casa, cama, comida ( muito boa!) e carona para os Piabas. Além do Grito Rock Salvador, que aconteceu numa casa fantástica, a Boomerangue, curtiu-se também umas praias, por que piaba também é filho de deus. E que praias lindas as de Salvador. Mesmo com o fervor do pré carnaval bombando pela cidade, na noite do dia 7 de fevereiro, a casa estava lotada. Destaque para a Irmãos da Bailarina, banda do Téo ( do quina e dono da Boomerangue) com rock competente anos 80 e para VENDO 147. Dois caras tocando uma mesma bateria numa energia que quem vê, não acredita. Dimmy, à esquerda, em uma caixa mais profunda (talvez de 8”) e pratos de ataque e de efeito. Glauco, à direita, tem prato de condução, uma caixa menor e um cowbell. Intenso!

Nem só de praia, acarajé e boomerangue se viveu em salvador. Cêagá, baixista dos Retrofoguetes, nos levou, junto do Morotó, guitarrista da banda, pra o show do Baiana System, no Pelourinho Cultural. Na verdade era um dos últimos ensaios abertos deste interessante projeto, cheio de participações especiais, que rodaram no circuito Barra-Ondina em cima de um trio elétrico. Neste ensaio participaram: Bnegão, Black Alien, Lucas Santana e o Retrofoguetes. Estes últimos também têm um projeto paralelo, o Retrofolia. Um resgate de canções dos primórdios do carnaval de trios, com foco na valorização da guitarra baiana. Supimpa!

Trânsito, rodoviária, coxinhas de frango e 12 hr de viagem rumo à Recife. Recife foi a base da turnê, onde Mayara do Lumo Coletivo, e sua maravilhosa família -Rô, Yasmin e Pablo- hospedou e levou pra folia seus longínquos hóspedes. No mesmo dia fomos à Olinda, participar do mais tradicional carnaval do Brasil e assistimos aos shows da orquestra de frevo do mestro Spok e Carlinhos Brown. No dia seguinte, Alceu Valença e Academia da Berlinda. Todos os shows foram incríveis.

O show em Campina Grande foi dia 13. Umas 3h de viagem e fomos recebidos pelo pessoal do Coletivo Natora na charmosa cidade da Paraíba. O show fazia parte da programação do evento chamado Encontro da Nova Consciência que reúne uma série de encontros paralelos: encontro de ufólogos, de profissionais do sexo, do santo daime, de ateus e agnósticos. Uma mistureba interessante. O evento já é tradição na cidade e foi na 19° edição que aconteceram os shows Rock na Consciência com Burro Morto (PB) e BNegão Sound System no palco principal, e na casa noturna Bronx junto com as bandas locais Nightrain e Hard Rock Zin, o Caldo de Piaba deu seu tempero à esse encontro.


De volta a Recife, o show agora era em Recife mesmo. Rec beat, o festival de música que acontece concomitante ao carnaval e que traz uma programação muito diversa. Banda com a de Joseph Tourton, Rastidae, Céu e Cidadão Instigado, que fizeram ótimos shows, totalmente conectados com o público. Destaque pras participações especiais do Guizado e da Ana Elis Assunção no show da Céu, um dos melhores shows já vistos. Gabi Amarantos, a ‘Beyoncè’ do tecnobrega paraense, improvisou, brincou, e fez o povo dançar como se estivesse numa aparelhagem em Belém.

Dos internacionais, surpreenderam os shows dos espanhóis do Ojos de Brujo, que mistura um monte de ritmos com música flamenca, e a experimentação dos mexicanos do Cabezas de Cera com instrumentos nada usuais. Foi impressionante também o trabalho de toda a equipe do festival: produção impecável e sonorização de primeira qualidade, tanto na equipe quanto no equipamento. Não é a toa que o Rec Beat completou 15 anos, consolidado como um elemento chave da programação do carnaval de rua de Recife, talvez o mais popular e democrático do país.

mais fotos do Recbeat, pela Caroline Bittencourt

Durante todo o festival, o pessoal do Lumo Coletivo esteve transmitindo tudo que acontecia no palco do cais da alfândega, ao vivo pela internet, e no show do caldo de piaba foi transmitido, também ao vivo, pelo Sistema Público de Comunicação, diretamente para o Acre. Aliás, dá pra conferir o nosso e outros shows do Rec Beat na íntegra aqui.

Os dois últimos shows da tour pelo Nordeste foram nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Em João Pessoa Rayan, do Coletivo Mundo e da Nublado nos recebeu em seu apartamento. O Show aconteceu no Espaço mundo, que fica na Praça Anthenor Navarro, no centro histórico de João pessoa,no bairro com nome conhecido nosso: Varadouro. Foi na vernissage da exposição Visto na Rua da artista francesa Tooza que o Caldo de piaba tocou para um público curioso, num clima intimista e agradável.



Na sexta feira 19/02, logo pela manhã, um atraso de 3 minutos fez com que perdêssemos o ônibus que seguia para Natal – RN. Pegamos o próximo ônibus, algumas horas depois e tivemos uma super recepção na casa de Ana Morena e Anderson Foca (onde também funciona o estúdio do Do Sol). Por lá também re-re-renconramos o Dimmy, um dos bateristas da Vendo 147,que para nossa surpresa e alegria, muito bom de cozinha também.


O show aconteceu no Centro Cultural do Sol em um palco montado no chão, mais próximo das mais de duzentas pessoas, na conta do Foca, que prestigiaram a noite instrumental com Camarones Orquestra Guitarrística (outra banda da agência FDE) e Caldo de Piaba. Foi pra fechar a turnê com camarones e caldo de ouro.

Veja mais fotos no flickr do Caldo

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bom, gente! Muito bom mesmo, parabéns! Essa é uma daquelas experiências que a gente lembra para a vida toda, com certeza! Fico muito feliz pelo sucesso de vocês! Muito!