quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Festival Varadouro 09 - Por Aarão Prado

Aarão Prado é radialista, vocalista, entusiasta e fazedor de cultura. Além de ser parceiro do Coletivo Catraia mesmo antes de ele existir, escreve sobre o festival , as bandas e suas impressões astrais dos seringais do varadouro 2009.

Um dos maiores eventos de música independente do país. Três dias de shows em um festival que faz das boas idéias, o norte fundamental no processo de caminhar atrás de novos rumos para a música alternativa brasileira. Este é o Varadouro, que em sua edição 2009 fez sua trilha no meio da floresta como fazem os seringueiros. O Amazônia Rio foi palco desta manifestação que talhou entre as árvores o canto de vários artistas, que ao invés do terçado e do cambito, utilizaram seus instrumentos e sua poesia como ferramenta de integração sonora e intelectual. Acompanho o varadouro desde quando ainda nem era varadouro, e nem assim deixou de me surpreender a beleza do local escolhido para esta edição do evento. Era chegar lá e ouvir a frase: “esse é o lugar do festival”. E com um clima totalmente a favor, era claro desde o início que esta seria uma das melhores edições do evento. Apesar de pecarmos em algumas coisas importantes para um evento deste porte, sem sombra de dúvidas, os acertos foram evidentes. Mais aqui vou me ater ao principal produto do festival: as bandas.

Sexta feira

SODA ACÚSTICA



Há dois anos tive o primeiro contato com o som da Soda e a impressão que tive ao ouvi-los no Varadouro foi à mesma. Trata-se de uma banda competente sonora e poeticamente, com um som ímpar em relação às bandas que geralmente surgem e Porto Velho. Foi um show bem feito e que certamente agradou quem tinha que agradar.

CAPUCCINO JACK



A música e a poesia melancólica do Capuccino sobem ao palco do varadouro. A banda, que está em constante evolução, provou entre outras coisas que tem o principal para uma banda: boas canções. É claro que ainda falta a pegada de uma banda mais experiente e isso foi evidente quando subiu ao palco a atração seguinte.

DEVOTOS


20 anos de Estrada, engajamento, hard core e um show que convence quem é, e quem não é fã do estilo. Os pernambucanos do Devotos fizeram um show competentíssimo e arrebataram o público com uma performance pra lá de intensa. A banda, que pela primeira vez se apresentou no Acre, estava visivelmente feliz no palco e foi surpreendida várias vezes ao ver músicas do seu repertório sendo entoadas pelos acrianos. Como diriam alguns fãs, o show foi FODA!!!!

CALDO DE PIABA


O Caldo de piaba exala criatividade. Tem a cara da cena independente e acima de tudo: é plural. É o tipo de banda que pode tocar de tudo em seu repertório sem se prender a estilo ou gênero. Algo como no mesmo show tocar Beatles, Tim maia, Michael Jackson, Jorge Cardoso e Calypso. No show do varadouro, além da proposta que já é muito bacana, a banda apresentou uma firmeza superior a outras apresentações que vi do grupo e fez com isso um dos melhores shows locais do festival. É, a música instrumental acreana sempre esteve bem servida com grandes músicos (Lima neto, James Fernandes, Waldir gavião, Geraldinho Aquino, Nilton Bararú, Chico Chagas, Sérgio Ricardo, CA, André Dantas...) e agora também com uma proposta menos virtuosa, porém, mais inusitada.

PLANO PRÓXIMO


Vinda de São Carlos, a banda Plano Próximo faz um som desencanado e bem executado. Melodias e letras pra lá de acessíveis e uma performance de palco cheia do charme da vocalista, que também toca teclado e escaleta durante o show. A cozinha da banda é competente e certamente quem gosta do tipo de som do Plano Próximo, curtiu o show dos paulistas.

LA MENTE


Os peruanos do La Mente tiveram problemas na fronteira e quase não chegaram para apresentação. Ainda bem que rolou o show como planejado, pois foi sem dúvida uma das apresentações mais animadas do evento, apesar de pessoalmente considerar um pouco repetitivo o som dos peruanos. No quesito entretenimento, os caras deram um banho com direito a um pedido inusitado por parte do vocalista da banda: “Karlinha queremos tocar amanhã também”. O público que foi a primeira noite do varadouro certamente não esquecerá fácil do La Mente.

MAPINGUARI BLUES


Público presente e animado depois do Show do La Mente, clima pra lá de propício e os apresentadores do evento anunciam um das melhores bandas do Acre: - “Mapinguari Blues”.
Certamente quem não conhece o Mapinguari deve ter conferido um ótimo show com um guitarrista bem acima da média (Charles), contudo, nós que já vimos do que essa banda é capaz, certamente percebemos que a vontade dos caras em fazer um show apoteótico atrapalhou um pouco o grupo. Como fã, esperava mais do show dos Mapinguaris, mas mesmo assim eles cumpriram sua função de fechar com brilhantismo a primeira noite do festival.

Sábado

SPS 12


Chegamos ao segundo dia do festival e quem estava lá cedo, pode conferir o som da banda do Amapá SPS 12. Quem não viu também não perdeu muita coisa. Acho que a questão dessa banda nem é tocar bem ou mal. Mais na verdade se descobrir enquanto banda com relação a sua própria sonoridade. Em minha opinião não acrescentou em nada ao Festival, espero que o festival tenha acrescentado a eles e que, de alguma forma, ajude a banda a amadurecer um pouco mais sua proposta sonora. O negócio é continuar na correria.

GRUPO CAPÚ


Sempre que se fala no grupo capú se reforça a idéia da importância histórica dos caras. Tudo que eles fizeram pela música autoral no estado etc... Eu prefiro me ater aqui ao que eles fazem hoje e acho que no show do varadouro ficou claro que o Capú poucas vezes subiu num palco tão ensaiado. Isso atrelado à essência do Seringal Astral é simplesmente hipnotizante. Clenilson Batista e suas filosofias estavam lá, porém uma banda competente também estava, tocando para uma garotada que nem era nascida quando os irmãos batista tocaram o primeiro FAMP. Ao longo de todo o show, tocaram com competência suas influências regionais, universais e cósmicas. Eu, particularmente em dado momento do show, só conseguia imaginar o pink floyd, em outro momento, a impressão era totalmente caseira, como se estivesse vendo um show do Sérgio Souto no mercado velho. Para resumir acho que o Capú não é uma banda do passado e muito menos uma banda folclórica. É sim uma das boas bandas acreanas da atualidade.

GUIZADO


Mais uma banda instrumental sobe ao palco do varadouro, carregada de melodia e com uma dinâmica que beira a perfeição. Foi impossível não curtir o show dos paulistas do guizado. Ótimos músicos e músicas que flertam com vários estilos musicais. Em momento algum pintou a saudade de um vocal, afinal, os instrumentos cantavam forte e a cada nota aumentava a conexão entre o público e o palco. Foi exatamente assim o show. Rico e abrangente, delicado e forte. Uma grande apresentação que não deixou dúvidas da competência e da diversidade sonora do guizado que deixou o povo em transe e meio sem entender o que via e ouvia.

CAMUNDOGS


Nessa hora deixei de ser um observado e fui exercer minha função de artista, por isso vou passar aqui minha opinião de cima do palco, já que ficaria estranho tentar julgar o que gosto e o que não gosta na banda da qual faço parte. No ano passado não tocamos no Varadouro. E em 2007 não ficamos satisfeitos com nosso show. Portanto a vontade de fazer um show legal era bem grande, do palco o que mais nos deixou feliz foi à participação do público cantando as músicas novas e, é claro o som que estava muito legal para todas as bandas. Foi muito louco ver músicas que não têm nem dois meses de vida sendo entoadas pelo público. Acho que a Camundogs hoje faz 100% o som que gosta e isso nos deixa muito feliz, só queremos nos agradar e isso rolou nesse Varadouro descemos felizes do palco e isso não têm preço, nos divertimos demais e agradecemos quem dividiu conosco esse momento especial. Um agradecimento também pra quem detesta a banda e suportou os 40 minutos de show, afinal a arte é feita de diversidade e ainda bem que não concordamos em tudo, seria chato.

MOSTRUO


Os hermanos Argentinos ouviam os gritos de LUIZ FABIANO ao final de cada música. Mas deixando a rivalidade futebolística de lado, foi mais uma banda competente que marcou presença no varadouro 2009. Riffs Grudentos de guitarra e uma pegada rock inegável. Os Argentinos mostraram boas canções e uma presença de palco bem desenvolta agradando o público presente ao Seringal Astral.

CIDADÃO INSTIGADO


Era a vez dos Cearenses do Cidadão Instigado. Uma mescla de rock com muitas outras ondas (uma tendência da cena independente). O Cidadão instigado têm um ótimo show e certamente não seria diferente em palcos Acreanos. É uma banda super bem comentada e veio ao festival com status de grande atração. Posso dizer que confirmaram a expectativa e mostraram a que vieram. Músicos extremamente competentes que ajudaram a elevar ainda mais o nível do Varadouro 2009.

LOS PORONGAS


O único show que não vi no festival, mais certamente e por motivo óbvios, a banda que mais vi entre todas. Portanto não temo em dizer que a mistura: Los porongas, Varadouro, Acre, porongueiros e porongueiras é certeza de sucesso. O que me chegou, é que foi mais um bom show da banda acreana que fechou a segunda noite jogando em casa.

CARO JOHN



Último dia de Varadouro 2009. Ainda cedo sobe ao palco a banda que veio do interior do estado (Tarauacá). Um Power trio composto por músicos de qualidade técnica inquestionável, passou longe aquela imagem de banda que está começando, apesar da Caro John ainda ser um banda relativamente nova. Boas letras e ótima pegada. Sem dúvida um dos bons show de bandas acreanas nesta edição do festival. E que se exploda a síndrome de que banda do interior é inferior, Caro John ainda busca uma sonoridade mais original, mais é certamente uma das boas bandas do Acre. Fica a dica para que eles possam voltar e tocar em um melhor horário. O show dos caras merece ser visto por mais gente.

FLORESTA SONORA



A música instrumental e os recursos eletrônicos foram uma marca bem forte no varadouro 2009 e os paraenses do Floresta Sonora foram mais um daqueles shows responsáveis pelo transe do público que simplesmente pode curtir uma sonoridade ímpar que remete a várias influências e porque não dizer, à vários lugares. Afinal, alguns sons podem te transportar a outros mundos e a várias situações, sons como o do Floresta Sonora.

NICLES


A nicles fez mais uma vez um show a cara da banda, ou seja, um verdadeiro desabafo de coisa nenhuma e, ao mesmo tempo, de várias coisa e ao mesmo tempo fundamental e sem relevância alguma (não foi o Clenilson Batista que escreveu isso). Na verdade essa é a Nicles, goste quem quiser, fale mal quem quiser. Mais lembre-se de enxergar os fatos: a banda está amadurecendo musicalmente e passa verdade em cima do palco. Fazem o que gostam e certamente tem gente que gosta do que eles fazem.

TRILOBIT



Mais rock com eletrônico e instrumental, com uma diferença: Esse som é de outro mundo. Isso mesmo, o Trilobit apresenta uma proposta inusitada. Certamente a parte cênica do show é extremamente relevante. O som também é competente, com destaque para os vocais sampleados, que sempre interferiam com muito bom humor e na hora certa. O show surtiu realmente o efeito desejado. Muita gente curtiu a “abdução” feita pelos ET’s de Londrina.

FILOMEDUSA


O som estava perfeito no PA, o show foi técnicamente perfeito. Poucas vezes vi Carol Freitas cantar tão bem. A precisão e criatividade do baixo do Daniel dialogavam perfeitamente com a batera precisa de Thiago e com a guitarrra gasguita e melódica de Saulinho. Foi um ótimo show da Filomedusa,. Não tem o que falar da parte técnica. Gostar ou não da banda é pessoal, cada um sabe o que o emociona. O fato é que a filomedusa é uma banda pronta e bem competente. Eu particularmente fiquei tocado com a execução da música “o que eu sou”, uma das melhores canções feitas no acre , na minha opinião.

CURUMIN


Daqui a alguns varadouros, certamente ao olharmos pra trás, vamos lembrar do varadouro 2009. O show do curumin estará na ainda forte na memória. Um dos grandes nomes do festival certamente. Com uma sonoridade diferente e ao mesmo tempo acessível, o show do curumim é cheio de swing, de ritmo e letras bem resolvidas. Mesmo antes do varadouro, o som do curumim já era um dos mais pedidos na aldeia FM e esse efeito se viu no festival com o povo interagindo. Um grande show com direito até a uma queda de pressão que fez com que o artista desmaiasse e preocupasse a todos. Isso mesmo. Até nisso o show foi inesquecível. Mais passado o susto, Curumin retornou ao palco ao som da música “Guerreiro”, que foi bem conveniente para o momento.

MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJÚ


Qual banda sobreviveria tocar por volta das 2h00, já pra pouca gente, nas primeiras horas da segunda feira e com aquele cansaço tomando conta de todos que ainda estavam lá? Sem titubear eu diria que no Brasil poucas bandas conseguiriam. Uma delas é o Móveis Coloniais de Acaju, uma das melhores bandas da cena alternativa e com um dos shows mais animados do Brasil. Ao longo do show dos móveis a galera foi entrando no clima e parecia que o festival estava recomeçando e não terminando. Com direito a várias músicas do novo disco e algumas mais conhecidas do primeiro álbum como: “copacabana” e “perca peso”, o show dos brasilienses foi a cereja do bolo de um festival que teve um nível técnico bem elevado. É claro que têm público para o todos os tipos de som e, claro também, que nem tudo que não gostamos é ruim e nem tudo que gostamos é bom. O fato é que no varadouro 2009 todas as bandas eram competentes e não faziam feio. Gostar ou não do som vai do julgamento de cada um que esteve nos dias 25, 26 e 27 no Seringal Astral e viajou em uma das melhores edições do festival.

fotos de Talita Oliveira, Renato Reis e Natércia Damaceno

Um comentário:

Unknown disse...

Sou do Acre, gosto do Acre, mas sinto saudades do Acre e de suas bandas q são foda d+++ e lê td isso q aconteceu no varadouro me deixa com orgulho do movimento q o catraia promove nessa querida cidade.
Sou fã de tanta gente aí...alguns eu conheço outros nem tanto, mas msm assim me sinto feliz por sermos tdos irmão acrianos.
Saí dessa terra já tens uns dias rs...tá bom 1 anos pra ser exata, mas não deixo d acompanhar o catraia e suas movimentações nessa nossa cultura musical e td mais q o coletivo faz acontecer.
Não entendo muito d musica, digo a parte tecnica (mas será q somos obrigado a entender?), bem...mas eu sei do q eu gosto d ouvir o q vai de Legião Urbana até Nicles (nesse meio tem muita coisa-Los Porongas, Camundogs, Filomedusa, Moveis Coloniais, Teatro Magico, Angra, Titãs (na epoca q era bom)e tanta outras bandas q tem o rock como base)
Eu queria falar muito muito msm, td o q se passa nesse meu coração e nessa minha cabeça q pira d qd em vez ao ouvir um som bom
E quero agradecer ao catraia e a td como o Arão q dividem com tds essas joias, esses comentarios e suas visões dessa musicas q fazem pirar e é bom saber q o Acre tá bem e q sua cultura tá crescendo e ficando madura a cada dia
Não quero saber das bandas q estão na midia televissiva,quero isso q leio ak sempre, pq essas bandas tds não devem aparecer em programinhas d televisão não pq não precisamos disso pra ter cultura musical da boa.