segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Só Se For Pra Ser Sincero: Alfa Canheti e Lenissa Lenza do Espaço Cubo

De olho no Festival Varadouro 2009 e no II Congresso Fora do Eixo, que vai unir aproximadamente 40 coletivos de cultura empenhados em difundir a música independente do Brasil - um deles é o nosso Catraia - é que conversamos rapidamente com duas integrantes do Espaço Cubo de Cuiabá, onde aconteceu no ano passado, o I Congresso Fora do Eixo. A primeira, futura jornalista, secretária de agendamento dos estúdios - Alfa Canheti - e a segunda, agente produtiva e responsável pelo Cubo Card, precursor das moedas solidárias no circuito. Acompanhem a entrevista:

Equipe do Espaço Cubo em Premiação: Alfa Canhetti, Ney Hugo e Marielle Ramires.

CATRAIA: Pra você, Alfa Canheti, o que é CULTURA?

ALFA CANHETTI: Depende do ponto de vista.. que pergunta difícil! (risos) Cultura pode ser entendida como um conjunto de costumes de determinado grupo de pessoas, como também um costume que engloba todas as formas de manisfestação artística: Música, teatro, tatuagem, literatura, moda, audiovisual.. Todas as formas são importantes.

CATRAIA: Você acha que toda a trabalheira de produção de um festival, por exemplo, é importante tanto quanto o próprio festival, com as bandas tocando no palco?

ALFA CANHETTI: Criar tecnologia de gestão de informações para atingir os objetivos, que é fazer o festival acontecer, é o que motiva quem trabalha nesse meio. O festival lá rolando é claro que tem sua importância, traz visibilidade pro local, pra quem tá tocando, pra quem tá fazendo, mas nada disso aconteceria se não tivesse o "rala" da pré produção.

"Eu acho que a "trabalheira de produção de um festival" é muito mais importante do que o próprio festival. A segunda não existe sem a primeira, a segunda é consequência da primeira.."


Cubo: Um dos precursores do Circuito Fora do Eixo, junto com o Goma e o Catraia.

CATRAIA: Qual a sua previsão em relação ao cenário musical? Daqui há 5 anos, você acha que o jovens vão estar curtindo o mesmo que curtem hoje?

ALFA CANHETTI: Bom, se os jovens vão estar curtindo o mesmo de hoje, eu não sei. Mas sei que muita coisa boa tá surgindo e que cada vez mais as pessoas vão se dando conta que o cenário independente é a nova lógica da música brasileira. Daqui cinco anos a nova lógica da música da América do Sul, aí América do Norte, até conquistarmos o mundo! (risos)

Arte do Grito Rock 2009 no MISC, em Cuiabá no Mato Grosso.

CATRAIA: Diz alguma coisa pra galera que pensa em formar suas bandas. O que é importante ter consciência pra que as coisas saiam direitinho. Só o "amor a música" já resolve?

ALFA CANHETTI: Eu acho que o amor a música é o de menos.. O que importa é o quão predisposto os integrantes da banda estão em ajudar na construção da rede. O Circuito Fora do Eixo é uma rede de laboratório e troca de experiências entre 40 coletivos no país, formado em sua maioria por integrantes de bandas que investem diariamente tempo para fortalecer tanto a cena local quanto essa rede e consequentemente fazendo isso vai estar conseguindo mais espaços pra circular.

"É uma equação simples: Se você investe na rede, a rede investe em você, é retroalimentação."

Vou deixar aqui o link da planilha de contatos do Circuito Fora do Eixo, e se alguém se interessar é só entrar em contato com o coletivo mais próximo: http://spreadsheets.google.com/pub?key=rmlW8Th29_iezEuVnE1xtIg&output=html
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Comunicação na correria do Observatório Fora do Eixo, que aconteceu mês passado.

CATRAIA: Como você acha que a internet pode ajudar a divulgação da música independente, sem prejuízo pros artistas que a fazem? Isso, que é uma das questões que o movimento MPB - Música pra Baixar - está pondo em debate?

LENISSA LENZA: Acho que o "criative commons" é um bom método pra isso né? Garantir os direitos e uma liberdade para os artistas difundirem sua música. Acredito que para o artista, quanto mais ela é difundida, melhor. E pronto.

"O congresso é uma ação pra nos levar a uma formação cada vez mais crescente, tanto paras as ações institucionais do circuito, quanto para cada coletivo que o compõe."

CATRAIA: Pra você, Lenissa Lenza, o que é a MÚSICA?

LENISSA LENZA: Péra. Eu tô aqui tentando responder algo que faça sentido.. (risos) Música pra mim é um método de criação. A música atrai muitas pessoas em torno de um processo criativo, prazeroso, que permite um desenvolvimento humano mais humano, permite a criação de regras próprias, com cenários próprios, com um hábito mais livre que o método tradicional de se viver. Acredito que isso é característica de segmentos artístico-culturais em geral, mas a música tem um histórico muito forte na potencialização de tudo isso.

Portal do Circuito Fora do Eixo na Internet: http://www.foradoeixo.org.br/

CATRAIA: Qual a sua expectativa para o II Congresso Fora do Eixo e para as ações que podem ser organizadas e implementadas para o ano que vem dentro do circuito?

LENISSA LENZA: As melhores possíveis. No congresso vamos ter uma semana pra desenvolver e compilar o que já estamos fazendo através da rede. Mas esse encontro é uma maneira da convivência presencial acontecer. E ela também é muito importante pro desenvolvimento do processo todo. Só tem a contribuir. Além disso, a dinâmica com consultores dedicados a áreas primordiais pro desenvolvimento do circuito, vai possibilitar a qualificação da rede significativamente. Esse ano o congresso já teve um Up em relação ao ano passado e a tendência é ampliar a cada ano, cada vez mais qualificado e antenado com o processo da política cultural do país.

Congresso Fora do Eixo, esse ano em Rio Branco, durante o Varadouro. Vai ser massa!

CATRAIA: Você acha que a música tem poder pra mudar a realidade social do nosso país?

LENISSA LENZA: Acredito que qualquer arte ou área que se prontifique a trabalhar e se desenvolver nessa perspectiva de mudança, estará trabalhando em prol de um desenvolvimento cultural diferenciado, e vai ter possibilidade de transformar a realidade. A música é um meio criativo que deixa o campo aberto pra isso, e aglutina muitas pessoas, mas nem todo músico ou participantes do meio musical estão dispostos a trabalhar em prol de uma mudança da realidade. Então acredito que a perspectiva é o olhar pra um objetivo cultural maior, ter em mente essa mudança comportamental e portanto a música é só mais um meio de se conseguir isso. Mas poder pra isso ela tem. A prova é o cenário musical independente que já vem provocando essas mudanças.

"E pra constituir esse cenário, esse movimento, é preciso mais do que compor, tocar e ouvir música: É preciso trabalhar."

É preciso distribuir, difundir, planejar, criar produtos, criar eventos, criar um mercado autoral, divulgar, formar sujeitos sociais e etc, mas estamos no caminho certo!

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