quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Rapaz Esforçado

Saulo Machado: Música, trabalho e dedicação.


Talento é igual a esforço. No fim tudo acaba em Amor e Dor. E na hora do improviso, menos é mais. Esses são alguns exemplos de frases que surgiram durante um bate papo bem descontraído com Saulo Machado, o Saulinho da Filomedusa.

Na vida desde músico, que compartilha com a ideologia de que o ramo musical é um trabalho como outro qualquer, então é necessário muito esforço e dedicação, o que não falta é trabalho. Com um EP em andamento pela Filomedusa, tendo participado como músico convidado do Acústico em Som Maior da banda Nicles, o guitarrista também é gestor de sonorização do Catraia.


“Talento é Igual a Esforço”
Um bate papo sobre música, arte e trabalho com o guitarrista do Filomeudsa


Catraia - A Filomeudusa está ganhando cada vez mais espaço no cenário musical. Fez um show bem elogiado no Festival Varadouro, e acabou de aparecer na Rolling Stones como uma das promessas deste ano. E isso com um pouco mais de 1 ano de vida. Pra você, qual é o segredo do sucesso da Filomedusa?
Saulo – (risos) não acho que seja um sucesso... E não tem segredo, nós temos um laço muito forte de amizade, já nos conhecemos antes mesmo de existir a Filomedusa, com isso ficamos bem a vontade pra criar e trocar informações na hora de compor e nós tentamos fazer com que isso seja o mais natural possível. As letras das musicas são responsáveis por esse reconhecimento, uma banda é sempre ouvida quando tem algo a dizer. Acredito também pelo fato do ainda existente isolamento, quando vamos tocar lá fora, as expectativas antes das apresentações não é sempre a melhor, isso nos dá muita vantagem.

Catraia - E o que a Filomedusa tem a dizer?
Saulo – A gente diz o que sente, o que acontece, comigo e contigo... Faz com que as pessoas se identifiquem, passando por diferentes fases, com problemas diferentes, Mas acaba se identificando com uma mesma letra. Independente do tempo, hoje ou amanhã.

Catraia - E o fato dos membros da banda terem idades diferentes facilita nisso?
Saulo - Sim, isso soma com certeza... Carol e Zen viveram épocas que eu e Thiago não vivemos, e que acaba somando com o que eu e Thiago vivemos hoje, cada um trás sua influência e joga no caldeirão de idéias filomedusicais. (risos)

Catraia - Você volta e meia apresenta no seu blog uma música sua. Essas composições acabam indo parar no Filomedusa, ou você pretende fazer um projeto solo ou alternativo, mais pela frente?
Saulo -
Sim, muitas delas foram para a filomedusa, eu componho e mostro pra banda e eles analisam se tem haver ou não... Não penso ainda em lançar um trabalho solo mais adiante, meu foco é na filomedusa, mas enquanto eu respirar vou tentar dizer o que eu sinto nas minhas músicas.


Catraia - Como é o seu processo de criação? Você tem alguma mania na hora de fazer uma música? Prefere fazer antes a música ou a letra? Não consegue escrever sem um titulo?
Saulo - É difícil dizer, acho que eu não tenho um processo de criação, ou um modelo. Depende muito do que você está vivendo... Mas sem dúvida de quando se está angustiado, por algum motivo ou por alguém ou com alguém até você próprio. Sempre acaba no Amor e na Dor.

Catraia - Como assim?
Saulo - As composições... O amor e a dor me influenciam bastante na composição.


Catraia - Você, além de tocar no Filomedusa, já foi convidado em vários shows. Como é o caso do Acústico da Nicles. Como é tocar em um projeto como esse? E como é se adaptar ao ritmo de uma outra banda, mesmo uma que seja parceira como é o caso na Nicles?
Saulo - Com a Nicles foi bem natural, sempre acompanho os shows e alguns ensaios, assim acabei conhecendo os acordes das musicas, a adaptação foi rápida, logo no primeiro ensaio as versões no formato acústico já foram sendo definidas sem muito esforço e a banda me deixou bem a vontade pra tocar e sugerir novos arranjos. Isso se deu ao fato da banda estar muito bem ensaiada. A Nicles hoje é uma das bandas mais enxutas da cena rio-branquense. Pronta pra rodar Brasil a fora.

Catraia - Mas nem sempre é assim tão fácil, né?Já rolou de você tocar com pessoas que quase não conhecia, tipo o Astronauta Pinguim na Semana Varadouro.
Saulo – Ah, sim sem duvida... Com o astronauta Pingüim foi na base do improviso total, passamos os acordes minutos antes da apresentação e contamos com a experiência do Junior Coquinho na batera. Bem mais difícil, pois conheci algumas musicas ali na hora, aí tem que se virar nos trinta. Claro, sempre o menos é mais, a sutileza ajuda bastante nessas horas, mais difíceis. E eu toquei contra baixo ainda por cima. (risos)... Mas foi bacana, foi divertido pra caramba.

Catraia - E como foi a experiência de tocar contra baixo? Sei que não foi a primeira vez...
Saulo - Foi legal. Eu curto muito o contrabaixo, é o instrumento que dá a dinâmica da musica que pulsa, já toquei algumas vezes nas Jam Sessions do Catraia e em festas na casa do Daru [cunhado do Diogo, do Los Porongas que também faz composições], na toca do lobo... Diversificando os instrumentos você acaba agregando outros valores... Mais valores...

Catraia - Para você, o que é talento? E você se acha um cara talentoso?
Saulo - Acho que não sou talentoso. Não existe talento sem esforço Saulo. Existe sim a força de vontade e uma disponibilidade de tempo pra estudar um instrumento, e gostar muito. Hoje em dia o rapaz “talentoso" se não se virar e correr atrás de trabalhar, produzir o seu próprio produto... Não vai chegar a lugar nenhum. Talento é igual a esforço.

Catraia - E isso leva a toda a ideologia do artista igual a pedreiro, que tanto se fala no circuito fora do eixo...
Saulo – Exatamente. Quando você carrega o amplificador e a bateria da sua própria apresentação e investe energia e tempo naquele trabalho, o produto final , o show a mensagem que chega ao publico, tem um valor maior, acredito que hoje em dia esse esforço vale a pena e agrega.


Catraia - Você leu o texto que o Ynaiã Benthroldo, integrante do Macaco Bong, escreveu sobre a ideologia do artista igual a pedreiro? O que achou?
Saulo - Li sim, achei muito bacana... O que eles conquistaram e estão vivendo na pegada do trabalho e pensando na cadeia produtiva, isso é muito bacana. Caminha para um ponto que é a sustentabilidade das bandas dentro do circuito através de uma moeda complementar, ainda não existe essa sustentabilidade por completa, mas as bandas que fazem parte desse circuito e que estão com essa pegada, caminham a passos largo à esse objetivo, existe boa musica pra provar isso... Por exemplo, no Porcas Borboletas e no Macaco Bong. O circuito já chegou no Canadá e é só o começo!
Catraia - E como anda o EP da Filomedusa?
Saulo - Tá saindo tá saindo... Estamos finalizando as gravações e já daremos inicio a mixagem... A previsão de lançamento é final de Novembro.

Catraia - Pertinho do CD da Nicles, hein?
Saulo - É... Vamos produzir! Isso prova que as bandas estão no 220

Catraia - Quais são as novidades deste novo EP? Alguma mudança?

Saulo - A novidade é uma faixa inédita, nunca executada em apresentações ao vivo, uma parceria minha e da Carol. Chama-se Maldito Popular. As outras faixas serão Trajeto, Desconcerto, Baixaria, e Levante... Não necessariamente nessa mesma ordem. (risos)

Catraia - E a música instrumental? Já vi no teu blog algumas composições desse tipo... É mais fácil ou mais difícil fazer instrumental?
Saulo - É mais fácil, com certeza, facilita na formação de temas harmônicos. O instrumental é mais livre pra criar e experimentar uma diversidade maior de ritmos. Com vocal tem que ter mais cuidado, mais tato... Não é sempre que você encontra um bom ou boa vocalista. Por isso dificulta às vezes.

Catraia - Mas como faz para escolher o nome de uma música instrumental?
Saulo - Depende muito. O que a musica quer dizer com o som e o ritmo, a intensidade. Tem melodias que parecem o dia, o sol... Outras são tristes, mais negra.... O instrumental é mais livre até pra escolher o nome das musicas, “Amanheceu ontem", "Nuvem Negra", mais ou menos isso. Nome próprio e nome de animal tá incluso também (risos). Mas cada compositor com seus problemas de nomes.

Catraia - Você tem problemas de nomes?
Saulo – Definitivamente não é fácil... Mas muitas vezes o nome já vem hora que está fazendo a música.



Foto: Talita Oliveira

Um comentário:

survive_band disse...

Grande Saulo.... Um exemplo fenomenal de musicalidade, sentimento, responsabilidade e dedicação!

Um dos melhores guitarristas de Rio Branco, esse é foda!
=]