domingo, 15 de junho de 2008

Blush Azul: Maquiagem e Rock'n'Roll

Blush Azul: Entre Rock e Maquiagem.


As meninas da Blush Azul estavam adorando. Eram tantas roupas, maquiagens e acessórios, que elas não conseguiam sair da frente do espelho. “Podem me chamar do que quiser, mas eu to sempre me arrumando” Brincou Irlla. Mas espera ai, qual das Irllas mesmo? Porque agora a banda conta com duas, a vocalista e a nova (e fofíssima) baixista, Irla Itani.

Os nomes são parecidos na hora de escrever e idênticos ao falar, o que chega a gerar bastante confusão. Durante toda a entrevista era necessário especificar com qual das duas estávamos falando. Mas a dona da frase citada anteriormente foi a vocalista Irlla Narel.

Mas a banda não é formada somente por meninas, existe ainda o azul do Blush: o guitarrista Victor Melo. “Mas o macho da banda é mesmo a Kaline” divertia-se o rapaz, meio que em desvantagem naquele universo feminino. Foi em meio a este clima de brincadeira, maquiagem e muita música que a banda falou das mudanças, da música, dos planos e apresentou a nova baixista, que já caiu na graça de todos. “Ela é a nossa irmã mais nova” comenta a baterista Kaline Rossi enquanto dá dicas de moda para a garota, como faria uma irmã mais velha.

Catraia – Vamos falar da historia da banda. Como foi que tudo começou?

Irlla Narel – A Kaline sempre quis ter uma banda com meninas, como nós estávamos no mesmo ciclo de amizade, marcamos um ensaio. Eu conhecia a Marcela [Sopchaki], que foi a primeira guitarrista da banda, e o Victor. Marcamos uma reunião e ficou decidido que a Marcela iria ficar na Guitarra e o Victor no contrabaixo. Foi quando decidimos que a nossa banda precisava de duas guitarras, não sei que idéia foi essa, acho que a gente queria ser Metal [risos]. Convidamos a Gisele pra entrar no baixo e ficaram o Victor e a Marcela na guitarra. Ensaiamos quase um mês com essa formação, ate que a Marcela pediu pra sair, porque queria fazer outras coisas, se dedicar aos estudos. E ficou a formação da Gisele no baixo e Victor na guitarra.

Catraia - E a agora tem a Irla, ou melhor, a outra Irla. São duas agora. Gera uma confusão, né?
Irlla Narel –
Causa [risos].
Kaline – De vez em quando a gente chama Irlla, aí olham as duas. Então tem que especificar, “Não, é a Irllinha”; “Não, é a Narel”.

Catraia - E Irlinha, como está a receptividade na banda?
Irla Itani –
Ah, eu acho que por enquanto esta tudo bem, né gente?
Kaline – [abraçando a baixista] Ela é a nossa irmã mais nova.

Catraia - E o Victor? Como é estar entre todas essas mulheres? Sempre se arrumando... Isso modificou teu lado feminino e masculino? Você acha que a convivência com as mulheres aflorou alguma coisa?
Victor –
Olha, não aflorou nada não. [risos] Mas sem brincadeira, eu sempre tive muita convivência com mulheres...
Irlla Narell – Garanhão! [risos]
Victor – Não, não é isso. É que eu já tinha tocado em bandas com mulheres antes e cheguei à conclusão que é bem melhor do que tocar com homens

Catraia - Por quê?
Victor – O ensaio é mais cheiroso [risos].
Kaline – Não fede a macho [risos].

Catraia – Depois da saída da Gisele, vocês quiseram continuar com essa formação de três meninas e um menino. Por quê?
Irlla Narel – Porque a essência sempre foi essa.
Kaline – A idéia de ter a banda era fazer uma coisa diferente, se a gente tivesse uma banda só com mulher, ou só com homem, ou só uma vocalista, não teria o mesmo efeito. Então, se fosse colocar outro homem acho que perderia essa intenção, nossa essência. Ate porque o lado feminino é mais sensível para algumas coisas, e uma delas é a música. Acho que podemos usar nosso lado sensível e criativo para fazer coisas deferentes do que os homens fariam, quase sempre complementando, já que o Victor é um complemento desse nosso lado sensível.

Catraia – E numa banda com muita mulher, o visual é importantíssimo. Vocês levam a sério a produção? Tem aquelas roupas só para shows? Como é o pré-show?
Kaline – A Irlla sempre é a que se arruma mais [risos]. Faz tempo que não fazemos um show grande, onde precisamos ter aquela preocupação com a roupa. Mas até o Victor já ligou perguntando “Ei, que roupa que tu vai?”. Eu, por exemplo, gosto de usar aquelas roupas que eu não teria coragem de usar normalmente. Aquela roupa antiga, de quando eu era pequena, ou coisas que eu comprei em um brechó. Acho que é uma forma de realização, se caracterizar como artista mesmo. Porque fora do palco somos gente normal.


Kaline e as duas Irllas: preocupadas com a imagem e com o som.


Catraia – O Renato Reis [fotógrafo do Circuito Fora do Eixo] sempre fala que a banda precisa pensar na imagem dela. Vocês já fizeram uma sessão de fotos com ele. Vocês acham que não apenas vocês como uma banda feminina, mas toda banda deveria ter essa preocupação?
Irlla Narel – Acho que é importante, e também por se com mulheres sempre esperam que tenha essa preocupação. Podem me chamar do que for, mas eu to sempre prestando atenção nisso, estou toda hora me arrumando, vendo a maquiagem. Mas acho que toda banda, sendo de mulher ou não, deveria ter uma preocupação com o visual. Não precisa usar uma farda, mas é preciso ter esse cuidado.
Kaline – Até porque no palco você tá ali pra ser olhado, pra fazer sua arte. Então quanto mais atributo você tiver, melhor. Ate que tem gente que fala “ah, elas só são bonitas”, “aquilo tudo é só fachada”. Mas faz parte do show.

Catraia – Como é que vocês lidam em ser uma das poucas bandas com meninas. Qual a importância que vocês acham que a banda de vocês tem na cena independente do Acre.
Kaline – Acho que é importante. Porque, uma das minhas influências para ter vontade de forma uma banda feminina foi TPM que era uma banda só de meninas aqui de Rio Branco. Elas faziam música covers, faziam show, ganhavam dinheiro e eram idolatradas e eram bonitas. Aí pensei, eu quero ter uma banda, mas quero tocar bem. Quero tocar música nossa e tocar bem. E, acho que assim como eu me influenciei... Sabe, aqui no Acre tudo é muito embrionário. Lá fora pelo Brasil, tem varias bandas femininas e das antigas. Acho que é importante pra incentivar as pessoas. Eu posso tocar guitarra, tocar bateria e posso ter o cabelo bonito (risos).

Irlla Narel– Teve uma vez, acho que foi no Grito [Rock, evento no carnaval, que esse ano aconteceu simultaneamente em mais de quarenta cidades brasileiras] em Cuiabá, que eu fui ao banheiro e encontrei com uma menina e ela falou “massa, a banda de vocês é foda, tem um menino na banda de vocês, mas meu sonho é ter uma banda só de mulher” e acabou com os homens. E eu “Olha, também não é assim”. Acho que a idéia não é essa, não é mostra pra ninguém que a mulher é melhor, mas é uma forma de mostrar que tem e pode ser igual. Muita gente que vê banda com mulher sem ouvir, fala mal.
Kaline – Só serve pra enfeite de palco.
Irlla Narell – É banda montada. Sempre falam isso.

Catraia – Por aqui ainda não temos um público grande para a música alternativa. Mas já temos muitos críticos. Como vocês lidam com essa dobradinha escassez de público e excesso de críticos?
Irlla Narel – Acho que a gente teve até sorte. Nunca ninguém falou mal esculachando.
Kaline – Aqui o público é pequeno, então nós acabamos tocando para amigos. Quem ouve é amigo de um amigo, a gente ta sempre familiarizado pra tocar pra quem a gente já conhece. Foi diferente em Cuiabá e isso que foi legal. A gente chegou lá, tocou a nossa música e o pessoal elogiou não por nos conhecer, mas por gostar da música. Isso demonstra que essa aceitação e esses elogios dos amigos não é falsidade.

Catraia – A Kaline e a Irlinha tocam instrumentos que geralmente são mais masculino. As pessoas comentam por vocês tocarem instrumentos mais pesados?
Irla Itani – Ah, tirando o fato de o Baixo ser maior que eu.
Irlla Narel – Sempre tem um comentário.
Irlla Itani – É, sempre tem. Eu nunca tinha tocado baixo antes, tocava guitarra.

Catraia – E como foi a mudança?
Irla I. –
Ah, eu tô adorando. Todo mundo fala “tu tá tocando baixo, caraca, que legal”.
Kaline – E quanto ao meu caso na bateria, tem um pouco de apelação. Porque quase não tem mulher tocando bateria, mas o fato deu tocar o pessoal já pensa “caralho, ela toca bateria. Massa!”
Victor – Não, é que parece que você tem um braço mais forte que o de homem [risos].

Catraia – E como é a relação com o Victor? Vocês brigam muito? Ele briga muito com vocês?
Irlla Narel – A Kaline o Victor se matam.
Kaline – A gente se pega às vezes. Na porrada verbal.
Irlla Narel – Porque a Kaline é o macho da banda né? A baterista. [risos]
Kaline – Mas apesar das discussões a gente tem uma relação tranqüila, se não nós não estaríamos juntos. Se fosse tudo perfeito não teria graça.

Catraia – Vocês sempre dizem que o Victor é o irmão de vocês. E agora a Irlinha a irmã mais nova. Então é tudo uma grande família? E como toda grande família...
Kaline –
É, isso mesmo. A gente ainda não discutiu com a Irlla, mas ainda tem tempo. Daqui a pouco tem ensaio... Vamos apimentar a relação. [risos]
Irla Itani – Eu ainda não fiz nada de errado... [risos]


Victor no País das Maquiagens

Catraia – Faz tempo que vocês não tocam aqui. Vocês tão ensaiando? Fazendo música nova? O que vocês estão fazendo?

Kaline – A gente tem planos de tocar música novas, planos pra produzir coisas novas. Mas ta faltando tempo e empenho.

Irlla Narel – Isso foi uma indireta. [risos]


Kaline – Com a saída da Gisele a gente ficou meio desnorteado, agora com a entrada da Irllinha a gente pretende ensaiar mais, fazer um show diferente, inovar. A Gisele foi uma fase da vida da Blush, uma fase muito legal. Mas agora a gente tá entrando em outra frase, em minha opinião nós temos que trabalhar pra ser uma fase tão boa quanto da Gisele. E até melhor.

Catraia – E sobre a saída da Gisele, foi uma coisa diferente pra banda. Nunca tinha tido uma saída de um integrante que tivesse repercutido tanto. Como foi lidar com isso?
Irlla Narel –
Acho que afetou tanto na banda quanto pessoal. A nossa proximidade com a Gisele era a banda, e a gente saia do ensaio e ia pra algum lugar. Viajavamos juntas.
Victor – Sem falar que ela é nossa amiga.
Irlla Narel – E foi logo quando a banda tava redondinha. Quando todo mundo tava interagindo, não sómusicalmente, mas pessoalmente.
Victor – Musicalmente também
Irlla Narel – Eu falo em presença de palco, todo mundo solto, mais seguro.
Victor – Já tinha um encaixe.
Irlla Narell – Quebrou um pouco isso.
Kaline – A Gisele era a nossa principal letrista, então agora nós teremos que nos esforçar nas nossas produções. É outra mudança que vai pesar

Catraia – Aquela velha pergunta clichê: como vocês definem o estilo de vocês?
Victor – Rock’n’roll, né? Não tem pra onde. A gente não tenta se apegar a muita coisa, fazemos a música do nosso jeito. Cada um tem uma influência.
Kaline – Acho que tem um pouco de pop também.

Catraia – E como foi o primeiro show Irlinha?
Irla Itani – Ai, não quero nem comentar. Eu tava muito nervosa. Mas o pessoal gostou.
Kaline – Tava a mãe, a tia, o papagaio, a avó. [risos]
Irlla Narel – É tão legal o primeiro show, vai todo mundo.
Irla Itani – O segundo tá prometendo também.
Kaline – É bom que tem mais público.
Irla Itani – Pelo menos o público gosta, né?

Catraia – Só se ouvia o público gritar o nome da Irla.
Kaline – Só na sabia pra qual Irlla tavam gritando [risos].
Irlla Narel – É bom que sempre pensa que tá abafando, né?
Victor – Daqui a pouco tão brigando pelo grito.
Irlla Narel – Era pra mim! [risos]
Irla Itani – Não, era pra mim... [risos]. Tá bom, tá bom... Era pra ti.

Catraia – O público alternativo é pequeno, mas quando tem show de bandas de fora, as pessoas pagam mais de 100 reais, mas pra esses eventos de 6 reais quase ninguém aparece. O que vocês acham disso?

Victor – Acho que é questão de publicidade mesmo, as pessoas são muito movidas pelo que tá na moda.
Kaline – Eu não acho, os eventos que rolam no meio independente têm divulgação, só que é mais para o público alvo. Acho que se for uma publicidade muito abrangente, vai ser perda de tempo. Por que tem gente que não vai porque não gosta mesmo. Acho que é consciência do público de saber que tem coisa rolando, e quem quiser participar é só aparecer.

Catraia - O que vocês acham do lema “Artista é igual a pedreiro”. A Kaline uma vez brincou que não era pedreiro, era artesã.
Kaline – É, eu acho que eu estou mais pra um ajudante de obras [risos]. Mas acho importante ter o envolvimento da bandas e de outras pessoas pra fazer com que a cena aconteça. Porque construção de cena não é como mágica que aparece e puf!, apareceu banda, apareceu público. É tudo um esforço de um trabalho contínuo e em conjunto das pessoas interessadas. Não adianta ficar sentado esperando as coisas acontecerem, reclamando que não tem lugar pra ir, se a gente não faz nada pra mudar isso. Como banda eu to fazendo a minha parte.

Catraia – Então o papel da banda é ajudar nesse cenário.
Kaline – É, alem de tocar por prazer. Por que eu toco porque gosto, eu gosto desse mundo de show, de viagens, conhecer gente nova. Mas ao mesmo tempo eu tenho consciência que isso é importante culturalmente, pras pessoas verem e se estimularem a produzir mais.

Catraia – E quanto a Irlazinha, você ainda é nova, tá começando agora nesse cenário musical. Você acha que entra numa banda assim te faz querer ser mais engajada?
Irlla I – Acho que faz. É algo bem diferente já ter entrado de cara na Blush. Eu ainda to aprendendo, mas já tenho um pouco dessa visão. To aqui pra ajudar.

Catraia – E ai, considerações finais? Um recado? Beijos pra xuxa?
Kaline – Ah, só agradecer né? A vocês por estarem fazendo essa entrevista e a galera que vai aos shows, que ajuda de uma maneira ou outra e incentiva a banda a continuar.



Irla Itani por Irla Itani


Irla Itani: Entre caretas, fotos e pingue-pongues.

Para conhecer melhor a fofíssima baixista da Blush Azul, nós pegamos a guria e fomos fazer uma pequena brincadeira. Um pingue-pongue. Confira o resultado:

Uma cor: Azul.
Um Filme:
Ai, não sei... Passo..
Um livro: "A menina que Roubava Livros".
Uma banda: Blush Azul.
Uma Música: Uma da Blush [risos]. "Ataúde"
Uma frase: "Quero ser Grande"
Um Sonho: Quero aprender a tocar baixo.
Uma palavra: Amor.
Um palavrão: Caralho!
Irla Itani por Irla Itani: Ah, fofinha, eu acho. Ou alguma coisa parecida [risos].



Fotos: Jeronymo Artur, Ana Helena e Veriana Ribeiro
Agradecimentos ao pessoal da Usina de Artes João Donato.

3 comentários:

survive_band disse...

Uma graça!

=]

saulinho disse...

Vida longa à blush Azul e a Irlinha também.
:)

Anônimo disse...

sinceramente...