quinta-feira, 15 de maio de 2008

Receita de Mukeka


Você ouve o tipo de som e já sabe qual é a dos caras: porrada! Vai prestar atenção nas letras e já consegue entender o paradoxo que existe entre o alegria e a desgraça - o escracho. Vai ler o histórico da banda e, pronto, deixa pra lá, entrega os pontos, deixa de querer entender e entra na roda. Nascidos e criados em solo capixaba, os integrantes da banda Mukeka di Rato, sabem do que falam, mesmo que até disso debochem. Contextualizando: inventaram a banda pelos idos de mil novecentos e noventa e cinco, quando a Internet (e eu) ainda engatinhava, com aqueles modems lentos e barulhentos e coisas como mp3 e Myspace não existiam sequer no campo das idéias.

De lá pra cá, além de chão e poeira, os caras comeram participações em coletâneas e splits , tocaram com bandas gringas, montaram um selo, o Läjä Records, tiveram clipe indicado no prêmio VMB da MTV e um dia desses se apresentaram no Festival Casarão, bem aqui do lado, em Porto Velho. No dia do show, como era de se esperar, rodinhas se abriam com a banda de Vitória e a tradicional rodinha "toma-lá-dá-cá" do hardcore fez a turma do "deixa-disso" ficar atenta: sempre tem uns que acham que aquilo é briga. Falando de Internet, cena independente, profissão, idas e vindas, conversamos com o baixista Fábio Mozine, que nos contou o tim tim por tim tim da receita de Mukeka di Rato.

Kaline Rossi (com colaboração de Janu Schwab)


Catraia - A banda de vocês se formou em 1995, quando a Internet era um bicho de sete-cabeças e essas coisas de mp3, myspace e youtube ainda demorariam uns bons anos pra aparecer. Como vocês enxergam a banda de vocês no cenário da música independente brasileira atual?
Mozine - Fico assustado às vezes, mas feliz por estar aonde estamos. a banda é muito respeitada em diversos meios musicais, sejam os mais undergrounds ou outros nem tanto. E tudo isso feito com simplicidade e amor por tocar. Se fosse por grana a gente já estaria fora há muito tempo, pois temos que trabalhar durante a semana pra poder tocar no sabado e domingo por diversão.

Catraia - Eu tenho o álbum Pasqualin na Terra do Xupa Kabra, que era a minha trilha sonora brasiliense. Bons tempos aqueles de 1997. Com tanto tempo de estrada vocês ainda conseguem passar a energia de uma banda iniciante. Da demo-tape pra cá o que mudou entre vocês e a cena independente?
Mozine - Mudou tudo, né? A estrutura das coisas está melhor hoje, uma estrutura capaz de levar a gente pra Porto Velho. Mas como estamos tocando por vontade de tocar, por vontade de passar o sábado longe, ouvindo o Sandro [vocalista] falar merda, o Paulista [guitarra e voz] reclamando (apesar que quem reclama agora sou eu) e o Brek [baterista] tirando onda, é melhor que ficar em casa jogando futebol ou sei lá! Acho que isso acaba passando do palco pra galera. E isso é bom.

Catraia - Oque vocês acham desse momento atual da cena independente brasileira, juntamente com essas perspectivas do mercado fonográfico, com gravadora quebrando, mídias alternativas bombando, gente botando a mão guitarra, baixo e na massa, fazendo cada vez mais som?
Mozine - Tá bem complicado! Eu que tenho um selo venho sofrendo. Mas sempre vamos encontrando meios alternativos de se virar, acho que pelo menos essa é uma fase boa para os festivais e isso é importante.


Paulista, o guitarrista. Não, ele não tomou um choque.


Catraia - Mesmo díficil pro Läjä, você acredita que o movimento independente, que segue lemas como "faça você mesmo", mas com uma estrutura melhor que a de dez, quinze anos atrás, possibilita o fortalecimento das cenas locais e o aparecimento de novas formas de negócio na cultura?
Mozine - Não sei, antigamente não tinha internet nem nada disso e a cena em Vitória era dez vezes melhor, mais unida e etc. Hoje há mais casas de shows, mas as bandas costumam ser horríveis e sem graça. Bom, talvez seja apenas eu que esteja mais velho [Risos].

Catraia - Vocês são do Espírito Santo, um estado que acaba ficando fora do eixo cultural Rio-SP. Como foi tocar no Casarão, um festival independente nativo de uma cidade mais fora do eixo possível? Vocês acharam o show positivo? Fez bem pra vocês?
Mozine - Foi do caralho! O tratamento na cidade foi bom, tivemos traslado o tempo todo, alimentação e hotel. O som muito bom, o público foi receptivo, ou seja, não perdeu em nada pra nenhum outro festival nacional.

Catraia - Vocês já tocaram com a Vivisick, do Japão, e com a Hellnation . Já participaram de algumas coletâneas, movimentam o selo Läjä Records, são conhecidos pelo humor ácido, fazem clipe, são indicados para o VMB, etc. O processo criativo de vocês e o gerenciamento da banda é feito de que forma?
Mozine - Bicho, tudo é feito na doida. Só tem doido nessa porra de banda! Mas ainda bem que as coisas tem fluido bem. E vem mais por aí hein?

Catraia - Como é o processo criativo de vocês? As idéias vêm de onde? Do lixo, do luxo, de vocês, dos outros?
Mozine - Cara, as idéias vem do nada, do dia a dia, de filmes ou livros que lemos, de outras músicas, de outras bandas, vem de tudo que está ao redor.

Catraia - Fora a banda, vocês trabalham em outras coisas, né? Qual é a profissão de cada um de vocês, o que cada um faz quando não tá tocando ou pensando em tocar? De onde vem o tempo, o gás e a grana pra tocar adiante esse projeto por tanto tempo?
Mozine - O Paulista é bancário, o Brek é publiciotário, o Sandro é professor e pesquisador, eu sou dono de selo, faço capa de discos, mixagens e etc. Velho, é o nosso futebol de final de semana. Ao invés de viajar pra não sei onde com um grupo de amigos, eu viajo com um outro grupo de amigos com guitarra e baixo pra tocar Rock. E é também uma fonte de renda pra gente. Pouca grana, mas rola.

Catraia - Como é a relação de vocês dentro e fora da banda? E a relação de cada um com as pessoas além banda? Namorada, esposa, mulher, pai, mãe, avó, papagaio, todo mundo entende e apóia os passos de vocês ou tem aquela galera que diz 'menino, larga isso, toma jeito' ?

Mozine - Entende mais ou menos. Esse mês saiu uma matéria num jornal local sobre um projeto tosco que eu tenho de fazer uns covers do Roberto Carlos de 1963 a 1969. Aí um tio velho meu, nada a ver, me falou "Porra Fábio, que isso? Porque você tá tocando isso? Você é do Mukeka!" [Risos] Muito doido isso! As namoradas reclamam que a gente viaja muito, mas no final acabam se acostumando. Geral dá força. Mas no início tinha muito desse papo de "larga essa vida e arruma um emprego". Hoje nossos pais entendem. Antigamente falavam pra gente ter cuidado com o tóxico!

Catraia - E, pra terminar, a pergunta clássica: quais são os planos pro futuro? Gravar Cd, distribuir Cd de graça, lançar novas coletâneas, tocar em mais festivais?
Mozine - Se vocês chamarem a gente pra tocar no Varadouro, vamos fácil, velho. Qualquer 10 mil dólar, é nóis! [Risos].

Catraia - Manda o material, pô!



clipe de Cachaça, Mukeka di Rato.
Quer que o Mukeka di Rato venha tocar no Varadouro 2008? Entra na comunidade do festival no Orkut, faz o pedido e cruza os dedinhos. Mas, cá entre nós, você não precisa esperar até lá pra ouvir o melhor do hardcore. Entra no site bem-humorado-e-bacanudo da banda ou no site do tão-bem-humorado-e-bacanudo-quanto selo Läjä Rex. Dá uma olhadinha no catálogo especializado em hardcore dos caras. Tem umas pérolas nacionais e gringas, tudo por um precinho camarada. Tem até o primeiro álbum prensado do NX Zero! Se não achar por lá pede o catálogo pro Mozine por email: lajarex@uol.com.br


Kaline Rossi

é baterista da Blush Azul
e estava lá no meio do público
do Casarão na hora do show
do Mukeka di Rato


Janu Schwab
é publicitário, colaborador
do Catraia e conhece Mukeka di Rato
desde 1997, quando caia de skate
"lá em Brasília".


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