quinta-feira, 29 de maio de 2008

Assuntos Qualqueres da Marlton

Marlton pelas lentes de Renato Reis
no Grito Rock Cuiabá 2008


No último dia 19 de maio os integrantes da Marlton tiveram mais um motivo para comemorar. Com mais de três anos de duração, que envolveram algumas mudanças na composição e participações em grandes eventos locais e nacionais da música independente, Diego Mello, Paulo Feitoza, Thiago Melo e Rodrigo Oliveira conseguiram a aprovação do projeto de gravação de 10 músicas abrindo caminho para a possível produção de um CD.

Trazendo na bagagem shows históricos – como o da Edição de 2007 do Festival Varadouro, Grito Rock Rio Branco e Cuiabá e Edição 2008 do Festival Casarão em Porto Velho – e duas músicas gravadas – Sem Um Despertar e Estocolmo, esta última considerada o hit da banda – os meninos da Marlton, como são carinhosamente chamados pelo público, viram, naquele dia 19, um sonho se tornar realidade.

As músicas serão disponibilizadas de maneira independente para o público no MySpace da banda. Rodrigo Oliveira, o guitarrista, contou um pouco da história da banda, das dificuldades encontradas, da aprovação do projeto e da cultura independente como um todo.

por Jeronymo Artur


Catraia: Fala aí, vocês que já gravaram duas músicas, cada qual em seu tempo, como foi receber a notícia de que o projeto de vocês tinha sido aprovado?
Rodrigo: Pareceu brincadeira. Foi surpresa e foi bom demais. Acho que só vai cair a ficha quando a gente estiver gravando mesmo. É uma oportunidade sem igual que muita banda estaria vendendo a alma pra conseguir, pois o custo de gravação é muito alto. Nós temos plena consciência disso e sempre daremos a devida importância.


Catraia: Fala um pouco do projeto: quanto tempo para realização e como vai ser o cd?
Rodrigo: Cara, o projeto só prevê a gravação e mixagem das músicas. Pretendemos gravar 10 faixas e isso deve levar no mínimo uns 2 meses. Mas não estamos com pressa para nada, a lei prevê um ano para realização do projeto, então se precisar trabalhar um mês em uma música só, faremos isso pra sair exatamente do jeito que a gente quer e pode fazer.

Catraia: Conta um pouquinho da história da Marlton, do surgimento da banda, quanto tempo, como foi a consolidação, as mudanças de integrantes.
Rodrigo: A banda tem uns três anos já. Antes chamava Afasia mas, por n motivos, um deles a falta de compromisso de muita gente, a banda nunca vingava. Eu, particularmente, nunca gostei da sonoridade da Afasia e por isso nunca me interessei em fazer parte. Algum tempo depois, em uma conversa com o Dito [Diego Mello, na época apenas vocalista da banda], me interessei em entrar na banda, até mesmo para mudarmos um pouco os rumos que as músicas e a banda estavam tomando. Mudamos o nome, o número de integrantes, entre outras coisas. Fixamos a formação em: eu, Dito, Gênesis Pinheiro e o Rafifi.

Dito e Rodrigo na última apresentação da
Marlton no Casarão em Porto Velho


A Afasia, a princípio, era composta por Diego Mello, o Dito, no vocal, Genêsis Pinheiro no baixo, Rafael Cavalheiro, o Rafifi, na bateria, André Vieira e Sílvio Antônio nas guitarras. Sílvio foi o primeiro a deixar a banda, dando lugar a Rodrigo Oliveira, que assumiu a outra guitarra. Algum tempo após a mudança para Marlton, André deixa o outro posto de guitarrista para o então apenas vocalista Dito, transformando a Marlton em um quarteto.

O Gênesis saiu logo depois do Varadouro em 2007 por não estar, digamos, totalmente inserido no contexto da banda e por falta de alinhamento nos pensamentos. Passamos um tempo sem baixista, contando com a ajuda do Gláuber [Jansen, guitarrista da Nicles] em uma apresentação de fim de ano do Catraia que fizemos no ano passado. Dias depois encontramos o Paulo [Feitosa], que era um amigo do Rafifi, que ouvia as mesmas coisas que a gente e que se encaixou perfeitamente na proposta da banda. Tempos depois o Rafifi teve que ir morar em Campo Grande (MS) e ficamos sem baterista. Chamamos o Thiago Melo [na época apenas baterista da Filomedusa] pra segurar um tempo com a gente enquanto não arranjávamos um novo batera. Mas aí o ‘segurar um tempo’ deu tão certo que pedimos pra ele ficar. Apesar de ficar com um pé atrás e nos enrolar um tempão pra responder, ele aceitou a proposta e agora nós vivemos felizes para sempre. [Risos]


Catraia: Ao longo desse tempo, quais as maiores dificuldades encontradas por vocês? E como vocês lidaram e/ou aprenderam a lidar com elas?
Rodrigo: Cara, são muitas. Até alguns meses atrás, muita gente que hoje apóia a gente meteu o pau e fez cara dura pra toda e qualquer coisa que fazíamos. Mas assim como tinham uns que não apoiavam, tinham aqueles que defendiam com unhas e dentes nosso direito de fazer a música do jeito que a gente fazia e tocar sempre que pudesse. Hoje é tudo mais alinhado e mais cooperativo, mas o Dito sabe, e talvez possa até relatar melhor, o tanto de merda que chegava aos nossos ouvidos o tempo todo. Outro fator era a falta de compromisso, que hoje já não existe em relação a nenhum membro, mas já foi muito chato ter que ficar explicando pra fulano ou sicrano que “se ta aqui pra brincar e aparecer pra groupie, ta no lugar errado”.

Catraia: Vocês fazem parte dessa nova gama de artistas que vem surgindo no Brasil, e já participaram do Grito Rock e Cuiabá e Casarão, além do Grito Rock Acre e do próprio Varadouro. Como vocês vêem essa guinada na vida de vocês como músicos?
Rodrigo: Não é bem uma guinada, por que a gente vai caminhando lentamente para que tudo isso possa acontecer. Acho que guinada é mais quando aparece a grande e inesperada oportunidade que vai te elevar a outro patamar. Eu, particularmente, prefiro que a questão do crescimento como banda seja dessa forma que está sendo: controlada e trabalhando-se pra colher frutos. Isso ajuda a valorizar a posição em que você está e não te cega em relação à questão de “se pôr no seu lugar”, sabe?

Catraia: Isso teria algo a ver com o crescimento e a maturidade de vocês?
Rodrigo: Também. Maturidade é um negócio perigoso, e mais ainda quando se acha que tem. Por isso é bom saber o que se está fazendo, o que se pode fazer ou não em certo tempo. Claro que nem sempre pensamos assim, mas graças aos trabalhos que vêm sendo realizados por todo o pessoal que ajudou a gente a construir uma mentalidade coletiva e mais “real”, a gente consegue visualizar isso. Mas ainda resta muito a aprender... Muito.


Catraia: E as músicas? De onde vem a inspiração?
Rodrigo: De todo e qualquer fenômeno, lugar ou acontecimento. Não é algo mecânico. No meu caso, na maioria das vezes surge uma frase ou um riff do nada, e eu apenas vou trabalhando em volta disso.

Catraia: E como é o processo de composição? Quem compõe letra, música, como funciona a integração entre vocês nesse processo?
Rodrigo: A maioria das letras são compostas pelo Dito e as melodias por mim, mas rola um meio termo aí também. Ultimamente estamos valorizando mais a composição conjunta, em um processo que envolve toda a banda. Por exemplo, a última música que terminamos é uma letra do Thiago, com uma melodia que foi construída por todo mundo a partir de uma idéia minha. Nós decidimos que agora vai ser sempre assim: alguém tem uma letra ou idéia, põe na roda pra sambar em vez de vir com o samba pronto. [Risos]

Catraia: Como é a vida fora da banda?
Rodrigo: Essa parece pergunta pra bandas grandes, que fazem grandes turnês e sei lá o que! [Risos] A vida é normal cara. Nós não vivemos da banda, então enquanto não puder fazer isso temos que saber adaptar tudo pra se encaixar. Se alguém não pode ensaiar por que tem prova, trabalho ou o que quer que seja, não tem ensaio. Mas isso, é claro, sem deixar de dar o devido espaço e seriedade à banda.


Catraia: Quanto aos projetos futuros da banda, como estão? Além da gravação do cd, quais as expectativas pro decorrer desse ano de 2008?
Rodrigo: Bem, estamos fazendo música direto, então muita coisa deve ser criada até o fim do ano. Vamos ter que saber dosar isso aí direitinho e trabalhar, trabalhar, trabalhar, dilvugar e tocar onde haver oportunidade. Essa história de que “esse ano espero que a gravadora me descubra” já era por aqui faz tempo. [Risos]


Catraia: Só pra finalizar e não perder o costume daqueles finais de entrevista, deixa uma mensagem aí pra galera:
Rodrigo: Uma coisa que muitas pessoas ainda têm que entender, é que não se pode condenar uma banda por VOCÊ não achar que a música presta. Eu acho que o profissionalismo é válido em todos os aspectos, se uma banda se leva a sério e tem noção de profissionalismo, quem sou eu pra julgá-la? Dê a sua opinião, se for técnica, melhor ainda por que você vai estar sabendo o que está falando, mas crítica construtiva é crítica construtiva (ta certo que muita banda chora quando lê a verdade) e deboche as vezes se faz de crítica. Deixe os outros formarem a opinião deles e de quebra, se puder criar um senso de coletividade que faça vocês trabalharem juntos não em prol de uma banda, mas de todas, isso seria ótimo.



Felizes da vida, os meninos da Marlton aproveitam para convidar todos para ouvir o programa Ao Vivo n’Aldeia neste sábado, 31, às 17 horas, na Rádio Aldeia (FM 96.9), e para comparecer ao Catraia na Roça, evento do Catraia em comemoração às festividades juninas, que apresenta, além da Marlton, as bandas Capuccino Jack, Nicles e Camundogs. Comidas típicas e músicas regionais fazem parte do cardápio disposto Na Roça a partir das 21 horas no Quadrilhódromo, Parque do Tucumã. É isso aí!

Jeronymo Artur
é acadêmico de direito e jornalismo,
colaborador do Catraia e conhece
a Marlton desde que ela nasceu.

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