terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Notícias quentes dos acreanos em Hell City


Foto: Renato Reis

Blush Azul, Survive e Marlton no Grito Rock Cuiabá: “É pessoal, o Acre é maior do que a gente imagina”.

- “E aí, escrevendo alguma coisa sobre o festival?” Foi com essa interrogação que o Saulinho, discretamente, jogou-me essa tarefa. – “Não, é claro que não!” – respondi. A verdade era que eu nem tinha pensando na possibilidade de ter esse ‘trabalho’ de parar para escrever, é que às vezes eu nem gostaria de ter entrado nessa, mas essa é uma outra história.

O fato era que eu estava lá. Eu, baixista da banda Blush Azul nos momentos de lazer e, nas outras horas, assessora de comunicação da FGB, acadêmica de jornalismo e aspirante a jornalista cultural. – “Ah, e por que não?”, pensei. E o texto começou a ser descrito de alguma forma em algum lugar contra a minha vontade. E a cada segundo me aparecia algo interessante para ser publicado.

– “O pessoal lá do Acre está ansioso para saber como está sendo aqui...” insistia o Saulo... - “PQP! Eu vou ter que escrever!” – conclui. É por isso mesmo que estou aqui e definitivamente não me perdoaria se não o fizesse. Portanto, vamos lá.

Survive: A banda com o som de peso que os fãs conhecem bem e que eu pouco sei falar foi fiel ao que mostra lá em Rio Branco. Posso apostar que o banguear daqueles caras em cima do palco não se encontra em qualquer esquina. De início, o público parecia tímido, afinal, a banda ainda era a terceira da noite.

Mas logo já não havia distância entre banda e platéia. E aquele balançar de cabeça já tinha virado decreto-lei no salão. Tive que sair de perto. Nessa hora, eu já estava com papel em caneta em mãos – “É o seu trabalho...” continuava o Saulinho. E eu já estava bem convencida disso.

Pouco antes, o Victor se deslumbrava orgulhoso: “Caralho, olha isso, eu conheço o Fofuxo desde criança!”, dizia apontando para o palco. Precisa dizer mais? O guitarrista da Blush Azul estava lá viajando no show do amigo que viu crescer...

“Como banda, nunca sonhamos em viajar e ter o tratamento que estamos tendo. Sobre o Grito Rock, só se ouve elogios”, afirmou o vocalista da Survive, Max Dean, o Fofuxo, em coletiva de imprensa logo após o show. “Às vezes, quando a gente sobe no palco, é como se fosse um ensaio entre amigos, com muita diversão”, completou o guitarrista Josélio Almeida.

“Conversar com as outras pessoas e respeitar os diferentes estilos é o melhor que podemos aprender participando de festivais como esse. Vamos sair daqui felizes porque vivemos uma experiência que ficará registrada como algo que nada pode substituir”, finalizou satisfeito. Já de volta à platéia, Joziney Bezerra, o outro guitarrista da Survive, vira pra mim e faz uma observação interessante: “Caraca, tá lotado né?!”. É.

Após duas bandas depois da Survive, é a vez da Marlton. No palco, eles se preparavam ao som de Blush Azul. Enquanto isso, eu pechinchava algumas coisinhas lá na barraquinha de vendas. Marlton começa o show e eu começo a me contorcer pra conseguir escrever num pedaço de papel, segurando a bolsa cheia de comprinhas (alguns cds, uma revista, um livro...). Após a primeira música, eu não resisto e solto logo um: “DITO! GOSTOSO!”.

Mas o que eu poderia dizer? Tenho certeza que nenhum indivíduo da face da terra tem noção do que eu vi: o pessoal se batendo em rodinhas vendo aquela banda tocar pela primeira vez fora de casa. Como eu posso descrever o glamour de uma cena como essa? Nem se fosse uma novelista da Rede Globo!

Eu me arrepio só de lembrar: o pessoal pulava com bracinho pra cima e eu não sabia se olhava para o show que a Marlton fazia no palco ou para a platéia que conseguia fazer um show à parte em termos de curtição. Marlton cativou o público do grito cuiabano logo de cara e fez a galera pular em rodas de fogo no salão. Os aplausos a cada música eram meros detalhes.

“Vou lá dar uma força pro Dito”, disse-me o Victor ainda enquanto a Marlton se preparava. E assim eu descrevo como estava a relação entre as bandas acreanas. Todas se ajudando, como num show do Coletivo Catraia. Eu lembro que, no dia anterior, entre música e outra da Blush, eu conseguia ver um sinal de “legal” vindo de algum acreano. Vocês nem imaginam o quanto isso era confortante.

E então, na última música, Dito anuncia que eles vão se apresentar no próximo sábado, no Enterro dos Ossos do Grito Rock Cuiabá. – “Hãm? Como assim?” – É, eu também fiquei surpresa num primeiro momento. Mas achei algo completamente compreensível depois. E, pela simpatia e irreverência, Dito foi convocado pra apresentar a banda da seqüência, a Branco ou Tinto. Vê se pode?

“A cada minuto, acontece algo que nos surpreende. As bandas de outros estados e o público são totalmente diferentes”, afirmou Rodrigo aos jornalistas, após o show. Já longe das câmeras, ele continuou: “É uma festa independente, e o pessoal vem sabendo que não conhece as bandas, mas vem com a cabeça aberta para conhecer. Acho que isso falta lá em Rio Branco”. Os garotos se mostraram completamente satisfeitos com a apresentação e com a resposta que receberam do público. Eles “bombaram” até na coletiva de imprensa - que (quase?) virou uma coletiva de flerte...

O Grito Rock Cuiabá aconteceu durante cinco dias, num espaço chamado Clube Feminino. Reunindo bandas, Hip Hop, cinema, literatura e artes plásticas. Inclusive, uma exposição fotográfica de Renato Reis. De longe, avistei um retrato de Daniel Zen - Filomedusa. Na seqüência, um dos Los Porongas, outro do Kilrio – Nicles, outro da Carol – Filomedusa. É, o Acre estava lá em peso, das mais diversas formas – Até mesmo num livro de poesias chamado “O Segundo Ponto das Reticências”, que estava lá à venda, viu Walquíria Raizer?

Continuando um bate-papo com o Saulinho, concluímos que cada lugar tem o seu potencial e é preciso visualizá-lo e aproveitá-lo, afinal, cada movimento possui sua realidade e sua forma de se manter, seu jeito de tratar com as comissões organizadoras e fazer com que tudo dê certo.

Na minha opinião, nós acreanos temos a mania de sair do Acre esperando uma certa “grandiosidade”, mas é preciso levar em conta que o Acre é maior do que a gente imagina. E o contato com os movimentos de fora nos mostra isso – que o nosso estado está mais à frente do que nossos olhos.

Frequentemente nos questionam sobre estilo musical. “As bandas do Acre têm um som diferente, trazem novas propostas, mostrando um som que não se costuma ouvir por aí, o que vocês acham disso?”, foi a fala de um jornalista durante a coletiva de imprensa com a Blush Azul. O que poderíamos responder? Ser uma banda acreana de rock já é um estilo, uma identidade única e exclusiva.

Vivemos num distanciamento geográfico com os grandes centros o que entra em contraste com a tecnologia que já dominamos há tempos e que nos leva para qualquer lugar desse universo. E nas palavras do Tiagô Melo, baterista da Marlton: “A Marlton, por exemplo, é um emo que você não vê pelo Brasil. Aliás, bandas como as do Acre, você não vê em lugar nenhum”.

Eu assino embaixo:

Giselle Lucena

Texto escrito e finalizado às 9h10 no Salão do Hotel enquanto uns dormem após café da manhã depois da última noite do Grito Rock Cuiabá, finalizada por volta das 5 e pouco com um super-show da Vanguart. – “E agora ceis me dão licença que eu vou dormir também...”. Agradeço ao Ney Hugo, do Macaco Bong, ao Saulinho e às bandas.



Acompanhe a cobertura do Grito do Rock Cuiabá em tempo real pelo hell city blog

Leia as resenhas dos shows da Blush Azul, Survive e Marlton no blog do espaço cubo

Veja mais fotos do festival aqui

2 comentários:

Veriana Ribeiro disse...

adorei o texto, como sempre a Gisele arrasou. Escrevendo lindamente, adorei.

Merece aplausos. E de fato, o Acre é diferente, e temos que investir nessa diferença, em vez de quere imitar os de fora.

Acho que as bandas acreanas estão fazendo isso muito bem.

Anônimo disse...

ótimo texto. =)